segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Para você, que nunca lerá isso [2]



Eu saí de mim
Cheguei a ti e me perdi
Passei a me ver com seus olhos
Os quais, focados, não olharam nem para o lado

Fiz dança, cores, desenhei sabores e suei em teu corpo
Mas nada te desfez da inércia
Parecia criança que quer chamar atenção
Daqueles que estão ao redor, no cotidiano turbilhão

Desfaleci na tua casa
Não dormi direito na tua cama
Precisava me recuperar
Me integrar
Me tornar novamente aquelo que eu queria que você visse

Nesse caminho, tornei-me o que não era
Me perdi sozinha, à espera
Largando-me para ser salva por você
Mas minha expectativa de ti
Gigante demais
Destoa a tua existência

Não que seja melhor
Nem que seja menor
Mas que seja sem a minha essência

Percebi que procurei em ti o que via em mim
E, ainda, me livrando dessa projeção
Entendo o quanto, aqui, há desejo do porvir

Para você, que nunca lerá isso

Era tanta vontade de se amar
De se entregar
De se vincular
Que tudo se perdeu no receio de tentar
No sonho do altar
Na ânsia do estar

No meu cio, o vulcão tornou-se um rio
Que, de quente e envolvente
Findou-se calmo e frio

Das possibilidades múltiplas, restam as esperanças estúpidas
E as memórias dessa insensatez, que, de vez, tornaram-se absurdas