domingo, 1 de setembro de 2019

Estou orgulhosa de mim
Hoje entendo o que era que me causava estranheza quando criança
As normas, as falas diversas das práticas, os afastamentos das pessoas por causa de dinheiro e preconceito
As cores que se distinguiam, as posições de submissão em várias relações, os silêncios.

Estou orgulhosa de mim
Por entender hoje que é o sistema
Lá atrás, ouvi o que era o sistema, e que era um sistema cruel, abaixo do céu
O rap me chamou muito sobre o sistema - o sistema criminal, o sistema carcerário, o sistema social
Angela Davis fala muito aqui
Lá, eu ouvia muito sobre o que era e o que deveria ou poderia ser

Estou orgulhosa de mim
Por entender que esse sistema traz uma leitura sobre as pessoas
Se é mulher, se é negra, branca, migrante, homem, gay, trans, pobre, rica
E que, ainda, tudo isso ainda é atravessado pelo território
Estamos na parte Sul do planeta
A parte Sul tem um histórico de colonização, escravidão, exploração
É só perceber como nos relacionamos com outros países, aqueles que se heterodenonimam desenvolvidos
É só perceber e questionar como homenageamos, honramos, reverenciamos e temos como referências externas a nós - geralmente da Europa ou dos EUA
- por que não nos referenciamos, nós, latinos?
Fanon me explica que o colonizado quer ser colonizador, e é
O pior colonizado é aquele que não enxerga sua própria condição subalterna, hierarquiza seus iguais e referencia aquele que o oprime
Poderia aqui caber a Pedagogia do Oprimido, a Teoria do Pequeno Poder
É só percebemos como nos relacionamos, como nos tratamos a partir dessas leituras que nos fazemos

Estou orgulhosa de mim
Por perceber que o sentido do capital em nossas vidas nos atravessa as entranhas
Nos enoja, nos enjoa, nos mói o coração e nos embrulha as tripas
Seu direcionamento direciona nossa autoestima, nossa localização, nossa territorialização, nossos processos de subjetivação, nossos afetos
Dita com quem vamos nos envolver, quem estaremos sãos, quem conseguiremos nos relacionar.

Vejo todos esses atravessamos de uma forma tão crua que eu conclui: satisfiz a sede de compreensão mínima de uma menina, que me trouxe até aqui.

E agora?