domingo, 16 de maio de 2010

Direito de defesa e autonomia sexual feminina


Após a terceira insinuação de que seria algo que não sou, obrigo-me a pensar alto e a me erguer em minha defesa e em proteção à conduta de muitas mulheres que são tachadas de moralistas, reprimidas ou castradoras.

Em meus relacionamentos, já ouvi muitos nãos dos homens que amei [?]: estavam cansados, indispostos, inseguros, deprimidos, ocupados e enfins.
E começo questionando: se, nós, mulheres, podemos ouvir não, por que não podemos proferir um sincero não sem sermos tachadas de moralistas, castradoras ou puritanas?

Atualmente, a maioria das mulheres que conheço produzem sua subsistência material e são felizes consigo mesmas. Ou seja: são completas em si e se renovam quando e como querem, não dependendo doentia e emocionalmente de ninguém.
Assim, se se aproximam de alguém, não buscam manutenção material (pois não vão querer deixar de lado sua autonomia e nem virar parasita de um homem) ou um preenchimento de carência. Elas querem conhecer a alma masculina e saber o que o homem pode lhes oferecer que seja diferente do comum ou do que elas já possuem. E não me refiro a nada material (óbvio). Faço referência a uma personalidade firme, a um caráter forte, um coração aberto e a uma mente renovada. É muito? Creem que não.

Não querem príncipe, pois são realistas o suficiente para saber que todos são imperfeitos (inclusive elas). Não pretendem um absolutismo de personalidade, caráter, coração e mente corretos, mas observam a prevalência das boas intenções e os atos sinceros e solidários. Farejam isso facilmente.

Nessa linha de raciocínio, com a lucidez do que querem e do que não querem, sabem muito bem que é relativamente fácil ter sexo. Em qualquer lugar, com qualquer cara, em qualquer horário do dia, têm ciência de que, se quiserem, vão fundo nelas. Só que, na maioria das vezes, elas não querem só isso.

Como descreve muito bem Andréa Beheregaray no seu blog (descrição que utilizo para explicação minha colocação), tais mulheres querem não esse "sexo culpado e vulgar tão presente na nossa cultura, é de outra ordem. É o sexo sagrado. Mas não confunda sagrado com religião e seu puritanismo pecaminoso. Sagrado no sentido de mergulho de alma, existência. Então, quando isso ocorre o sexo não se esgota na carne, e também não vai residir no que há de platônico em você. Ele será o encontro disso, carne e alma que juntos criam um terceiro espaço de prazer" (grifo nosso).

E, em diálogo com o post da minha amiga, não são mulheres tristes conforme entende o senso comum: são mulheres bem situadas no momento histórico em que vivem, conhecem as angústias de sua sociedade e sentem a tristeza dos tempos de hoje - exatamente por tal motivo não se rendem à superficialidade, à falta de explicações, ao laissez-faire sócio-sexual reinante.

Por lógica, não se comprometem com a moral risível da sociedade, não se comprometem com o que o homem pode pensar ou deixar de pensar, não se prendem aos convencionalismos da vizinhança ou dos colegas. Seu compromisso a priori é consigo mesmas. Se seu corpo não quer, não há artimanha ou brincadeirinha que as faça ceder ao convencimento (aliás, o corpo feminino não é para brincadeirinhas infantis nem para satisfação de carências não suprimidas na fase pueril).

Não se podam, não se castram. Quando não querem, não querem. É simples: corpo não tem tesão para o ato. Simples. Mas, quando querem, querem. Nem dor de cabeça é empecilho. Nem febre, nem dor de garganta, nem pneumonia. Nem lugar: em construção, em cima de moto, em carro (dentro ou em cima), em elevador, no banho, na pia da cozinha, na praia. Nem hora: à noite, de madrugada, depois do almoço, ao chegar do trabalho. Nem nada... exceto o não masculino. Faz-se o que, então? Respeita-se a vontade do parceiro, já que essas mulheres não levam a negativa para o lado pessoal. Simples [2].

São sinceras consigo mesmas: respeitam seu corpo, seus sentimentos, suas vontades. Respeitam sua personalidade e têm autonomia para escolher o que lhes é próprio para cada momento. O seu não é não. O seu sim é sim, querido, e uasdis wuhncopwe sek uwehbvopsdsjdf ushduweowoejf!!!!!!  (mode censura: ON)

No caso comentado, especificamente, repisa-se que não é questão de regras (que seria uma compromisso irracional com a moral): a negação não é dada porque é pelo primeiro encontro, ou o segundo, ou porque se conhecem há pouquíssimo tempo, ou porque se conhecem há anos. Não. É uma questão de tesão (o sexual e o motivador). Simples [3].

Como o próprio Warat profere ao explicar como a castração nos impede de nos conhecermos e de alcançarmos a libertação, ele também aponta que se fazem necessários limites, que é o respeito a si mesmo e ao outro, permitindo a consubstanciação da existência do eu e da alteridade (in A Ciência Jurídica e Seus Dois Maridos). Assim, desrespeito não é ter desejo pelo corpo feminino, mas é tentar devassá-lo em detrimento à personalidade e à autonomia da mulher.

Sabem o que querem, quando querem, como querem. Assim como os homens.
E sabem expressar suas vontades, assim como seus parceiros.
E sabem exercer sua autonomia e dizer não. Assim como os homens.

Tudo isso porque não têm medo de ficarem sozinhas, caso algum recalcado negue-lhes um próximo encontro por causa da negativa: antes só (e feliz consigo mesma) do que mal acompanhada (ao lado de um homem que não é Homem e não sabe respeitar um não).

p.s. 1: homens que são Homens, obrigada por entenderem que não há generalizações no texto. Amamos sua existência. Seríamos muito gays caso vocês não existissem (conotação comportamental e de cores).

p.s. 2: certa vez, enquadrei-me como puritana, mas retiro o que disse.
(mode censura: OFF)


Nenhum comentário:

Postar um comentário