Minha infância não conheceu muito bem um computador, então posso afirmar que tenho um antes e um depois tecnológico-informacional.
Um antes restrito, regionalizado, bairrista e calmo. O depois acelerado, universalizado, plural, disperso. Em tais tempos, localizo algumas tendências comportamentais similares, dentre elas o interesse de muitos por uma satisfação passageira que os embriague contra o (pseudo)niilismo existencial e contra o trabalho de construção consciente de uma verdade compartilhada.
O abandono da responsabilidade de tal empreendimento implica a aceitação da montagem de uma verdade, também compartilhada, mas inconsciente: nossos contemporâneos preocupam-se com relatar o que está fazendo pela manhã ou no banheiro (em busca de atenção ou de ser o centro desta); em mostrar-se aos amigos (que não são tão amigos assim) e desconhecidos como uma pessoa com uma estrutura física perfeita, colocando em evidência partes do corpo que poderiam fazer com que alguém (qualquer alguém) se interesse por eles (muitas vezes sem saber (ou sabendo e querendo) que o único interesse a ser despertado é o sexual); em expor imagens próprias em lugares ou situações que, de acordo com os padrões convencionais, demonstrem que são bem sucedidos financeiramete, como se circunstâncias patrimoniais representasse o seu verdadeiro caráter; em discutir imagens de outras pessoas que, também realizando feitos insignificantes, tornam-se os ícones e, bem provavelmente, exemplo; em deliberar sobre alguma mazela num lugar longe deles e agradecer por não estarem vivendo em tal condição; em dialogar (para não dizer monologar) sobre notícias com o único objetivo de se mostrarem bem informados nessa imensidão de informações que não nos beneficia em nada.
Essa é a verdade que está construída sob seus pés, ao redor de seus olhos e ouvidos e que os aprisiona. É a perda de tempo de uma construção que não edifica (em) nada, somente deixa montada a ignorância e a futilidade.