De repente, as minhas bobeiras, que antes era recebidas com um sorriso e uma brincadeira, passaram a sujar a relação. Não havia mais um sorriso sincero, mas lábios apertados e sérios. Comecei a sentir que o relacionamento estava apodrecendo com os monstros que deixei virem à luz. Culpei-me.
Passei a lutar, então, incessantemente, contra mim mesma, a fim de que meu mal morresse para que o relacionamento, tão real e tão intenso, pudesse sobreviver. Mas, creio, agi tarde demais. Passei a ver os meus mecanismos de defesa, que outrora havia vencido, sendo jogados em mim como uma vergonha que eu deveria sentir. Era idêntico ao que eu fazia. Era a vingança da vida - a minha própria vingança.
Havia fornecido armas que foram astutamente manejadas e utilizadas contra mim. Eu era a responsável por isso.
Contudo, outras situações aconteceram, mais além do que eu podia imaginar ou esperar como vingança. Perdeu-se a confiança. Na verdade, ela foi eliminada - se fosse perdida, talvez ainda seria possível encontrá-la.
Tudo mudou. A certeza de tudo mudou. Visão de caráter, de admiração, de futuro. Não havia mais nada. Não havia mais perspectiva, expectativa, planos. Tudo se esvaiu como se nunca existisse. Formou-se um hiato, um vazio, um abismo intransponível.
Restou a lembrança de que aquele sentimento é possível. Não se sabe quando nem como. Mas é.