segunda-feira, 9 de junho de 2014

Há algum tempo, eu vivi um amor muito puro. Sem jogos, sem desconfiança, sem pressão, ou mentiras. Foi uma época incrível, em que eu senti uma liberdade emocionante de parceria e um profundo sentimento de gratidão. Eu pude ser eu e mais: eu era linda e única àqueles olhos.

De repente, as minhas bobeiras, que antes era recebidas com um sorriso e uma brincadeira, passaram a sujar a relação. Não havia mais um sorriso sincero, mas lábios apertados e sérios. Comecei a sentir que o relacionamento estava apodrecendo com os monstros que deixei virem à luz. Culpei-me.

Passei a lutar, então, incessantemente, contra mim mesma, a fim de que meu mal morresse para que o relacionamento, tão real e tão intenso, pudesse sobreviver. Mas, creio, agi tarde demais. Passei a ver os meus mecanismos de defesa, que outrora havia vencido, sendo jogados em mim como uma vergonha que eu deveria sentir. Era idêntico ao que eu fazia. Era a vingança da vida - a minha própria vingança.

Havia fornecido armas que foram astutamente manejadas e utilizadas contra mim. Eu era a responsável por isso.

Contudo, outras situações aconteceram, mais além do que eu podia imaginar ou esperar como vingança. Perdeu-se a confiança. Na verdade, ela foi eliminada - se fosse perdida, talvez ainda seria possível encontrá-la.

Tudo mudou. A certeza de tudo mudou. Visão de caráter, de admiração, de futuro. Não havia mais nada. Não havia mais perspectiva, expectativa, planos. Tudo se esvaiu como se nunca existisse. Formou-se um hiato, um vazio, um abismo intransponível.

Restou a lembrança de que aquele sentimento é possível. Não se sabe quando nem como. Mas é.


sábado, 7 de junho de 2014

Têm sido tempos difíceis. E, ao mesmo tempo, uma época de consciência.

Fechar-se para vínculos relacionais, em razão de você mesmo e do que você acredita, é quase uma autofagia, um tanto quanto necessária para você analisar de longe o que você precisa ver em detalhes.

Não sei se será um dos trabalhos mais importantes, mas sei que o que estou produzindo está sendo o mais correspondente aos meus anseios e às minhas (in)certezas. Vai do abstrato teórico de holos ao sangue e à miséria humana experimentadas na parcela que vejo da sociedade.

Na construção desse prisma multifacetado, em que impera a ingenuidade de dar uma resposta à complexidade social e jurídica, me são impostas decisões mais claras e mais condizentes com o que acredito. O meu trabalho que prima por uma ética consciente da moral coletiva e da atuação dos atores públicos, demanda de mim o abandono da hipocrisia e a adoção de um sentido em minha vida. Vem à tona, de uma maneira inexorável, a pergunta: por que você está fazendo isso?

É a pergunta que sempre faço aos outros, mas - grande erro - que havia deixado de fazer a mim mesma. Deixei-se levar pela perfeita tempestade de eventos e tornei-me, fatidicamente, reativa: deixei de criar na proporção que criava; esqueci-me de moldar positivamente as situações ou de transformá-las, com o ímpeto do que pode ser certo, a algo proveitoso aos envolvidos. Resignei-me a esperar e a reagir.

Assim, perdi as forças. Meu espelho e o seu reflexo eram-me estranhos e as possibilidades de um sorriso afetuoso eram caras.

Até que precisei me afastar e aproximar-me, de novo, dos pensamentos que me construíram. Pensamentos de racionalidade e de otimismo frente ao panorama negativo da humanidade. Pensamentos de resiliência e distinção de egos. De força vital e de possibilidade de mudança.

E isso atinge aqui: toda essa corrente inovadora de mentalidade aprofunda-se na minha pequena existência. E me afunda, me desconstrói, me separa. É onde eu vejo que estava afastada da minha base, que me parece ainda um tanto quanto turva - mas não porque ela assim é, mas porque meus olhos ainda estão enuveados.

Só preciso de forças, agora, para tornar a visão límpida.