sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Meu pai é colonizador


Buscamos identificação em espelhos
Não tenho espelho

Me arranquei de onde eu tinha raízes
Raízes são boas, dão segurança
Mas também são ruins, porque nos impedem de caminhar

Eu tinha raízes em um local racista, homofóbico, transfóbico, misógino, violento, colonial
[colonizador
Um local com pouco ar
Um local com poucos sentidos de afeto
Um local com muitas referências econômicas
Muitas restrições
Pouca liberdade
Era um local que eu conhecia como família.

Eu insistia porque, né, eu gosto do olhar, do cuidado
Sou lar e afeto
Sensibilidade e papo reto
Por mais que minha objetividade não pareça ser algo de perto

E recebia, sim, mas em umas migalhas condicionadas ao cumprimento das restrições
Desde eu fosse como devesse ser
Condição para afeto... um afeto excludente
De uma família colonizada, de feminilidade enfatizada

Minha pesquisa é sobre nós
É uma tentativa de nos explicar para nós mesmos
Talvez seja uma tentativa de compreender as razões de tantos moldes, tantas exclusões
Por mais injustificáveis elas sejam

É, talvez, uma tentativa de me comunicar conosco
E, depois dessa comunicação, em que preciso entrar no sistema de vocês para entendê-los
Eu consigo, pelos seus códigos, olhar a sua (des)humanidade
Eu consigo, pelos seus códigos, lhes oferecer uma outra possibilidade de nos fazermos
Eu consigo fazê-los reagir contra/de aquilo que nós mesmos criamos.



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