sábado, 10 de dezembro de 2011



É tanta opressão em teu ser que ele se abafa, que ele se transforma em automatismos de produção e necessidade de reconhecimento. Mas o sacrifício nunca será reconhecido na medida necessária para a satisfação-sensação de "missão cumprida". Sempre haverá sangue e cansaço demais, sono e risos de menos.
Perdeste-á de ti mesmo e, talvez, nunca mais te encontrarás. Buscar-te-ás nos fossos mais sórdidos, na valeta mais fedorenta, nos olhares e nos aplausos dos outros (quaisquer), nas assinaturas dos superiores. Procurarás teu nome e tua honra lá, mas não acharás. Pensarás que está no chão do corredor central, nas vozes ao telefone, na convenção de despedida, na revista de tendências (qual mídia não é tal?). Mas não: voltas pra casa refazendo o caminho feito 2907327 vezes e nada achas.
Não cuidarás mais de ti: teu corpo não te importa, tua aparência é cuidada meramente por conta da necessidade de reconhecimento e opressão de perfeição estética. Teu interior não importa, mesmo que esteja despedaçado e em fiapos, fedendo de tanta água parada e matéria orgânica em decomposição.
Não te lembras nem do que é básico: direção, pedais, valores, princípios. Por óbvio, tudo se vai com teu ser.
Andarás sem rumo até que passes por uma rua aparentemente conhecida, sem saída, e te vês lá, na guia, vendo o vento dobrar, ouvindo as folhas das árvores e sentindo o calor do sol naquele dia frio. Esperando algo num tempo que não passa. Expectativa atemporal de que tudo volte a ser como era há um segundo. Não, como era há dois meses, ou há dez anos. Não sabe direito o que quer, não sabe dizer o que fez para estar ali. Como num sonho, começou do meio e ficou ali, sem fim. Só tem uma pequena vontade: que todas as pressões que tu sentes passe para que possa, novamente e sem amarras ou obrigações, sorrir.


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