quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ritual de cativeiro


Essa época do ano... sempre com luzes, vermelho, verde, dourado, arrependimentos, promessas, inovações.
É algo que traz um conflito aqui: as obrigações de intersubjetividade que deveriam ocorrer durante o ano, agora, transvestem-se em rituais de ceia, troca de presentes, abraços e sorrisos.

Não sei, mas não consigo mais colocar um embrulho de presente nessa situação e enxergá-la desse modo tão pragmático para mim.

Para quem anseia por alteridade em cada ano do dia, buscando respeito e consideração para si e para os outros, é um certo fardo um socialismo desses - que, ao contrário, do que se promove, tornam os contrastes gritantes.




Também não me fantasio de ovelhinha branca perto da manjedoura, clamando por socorro ao ver os lobos que se encontram longes das luzes do presépio. Minha parcela de resposabilidade por tal percepção é grande, especialmente por ter a tendência de afastamento para a observação da convivência humana. Isso, sim, é um peso; mas também, por muitas vezes, é uma salvação - até de mim mesma.

Ora, mas claro, por conta disso e por tudo que enxergo (o mínimo do que quero) ao redor, crio em mim barreiras para não entrar na magia do natal do ano novo. Para começar, "magia do Natal" lembra coca-cola e aquele maldito jingle. Pampampam pampam pam. Vermelho, da cor do rótulo. Época triste capitalista. Mais triste ainda é a invasão desse tipo de coisa no sistema nervoso - sistema raivoso, nesses momentos.

O natal é aclamado desde setembro, outubro, no comércio. E, na roda dos engraçadinhos, desde fevereiro, esboçam o jargão "chega, natal". Presentes, promoções mil que enchem minha caixa de entrada, afirmando que aquela é a oportunidade da minha vida e que o preço tão baixo é justificado pela minha suposta necessidade de presentear todos os parentes, conhecidos e desconhecidos. Ora, o preço é justificado porque as lojas, empresas e tudo o mais precisam se livrar dos estoques do ano passado para a entrada dos produtos que vão ser objetos de lavagem cerebram no ano que vem.

Aliás, por falar em estoque, é a época do ano para revirar os estoques mentais e sentimentais, pedir perdão por tudo o que fez de mal, abraçar os magoados e os feridos, cantar músicas felizes e agradecer pelo ano que passou. É a fase, juntamente como ano novo, de jogar fora o antigo e se renovar com o novo. Mas isso depois do verão e do carnaval, onde são criadas mais toneladas de inutilidades e superfluosidades emocionais, dores de cabeças etílicas e, enfim, a consciência de que precisam pagar as dívidas que foram feitas nesta época de paz.

Época de paz? Vocês já viram o caos que estão as lojas? E as ruas, nos finais de semana? Isso sem falar na correria que é fazer a própria ceia de paz. Discutem com quem preparará tal comida - por ser um encargo ou por cada um se julgar melhor que o outro. Na entrega dos presentes, pode ter certeza, quase ninguém restará contente com o que ganhou. Mas não importa o presente? Lógico que não importa... então, para que dar? O que importa é a pessoa? Então, porque a birra quando essa mesma pessoa prefere estar em outro lugar?

Utilizando-me da linha de raciocício da Andréa Beheregaray, na Crônica Virtual "Amar É Flertar Com a Morte", o que criamos são fantasias para determinadas situações, e não a expectativa de estarmos entre pessoas queridas, independentemente da ocasião. Fantasias criadas, manejadas, articuladas, manipuladas para a segurança psicológica e para poder afirmar a outrem que "as festas foram maravilhosas, tal qual manda o figurino do papai noel". E quem ousar criticá-las ou extirpá-las será ferozmente acusado de falta de sentimento, de comoção, de coração.

Mais um tiquito sobre o natal, aqui.

3 comentários:

  1. outro desenho meu q foi cortado os créditos... att Jean Bohlen

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Infelizmente, a autoria não foi encontrado no site de imagens. Mas obrigada por informar.

    [Problema resolvido (retirada da imagem)].

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