terça-feira, 18 de novembro de 2025

estendo a mão
em um gesto de confiança e companhia e
em mão estendida, 
sorrio 

 olho nos olhos 
 e espero 
 espero havendo um sinal de reciprocidade 
 - imediata 

não há possibilidade 
de esperar muito tempo 
de fazer da sua vida, do outro somente da sua e da do outro, umas

 o tempo é cruel se revolta e questiona 
 NÃO SOU O GRANDE EU, O AGORA?! 
 o grande eu que se faz com o nós 
 nós e laços, o nós do agora 

 não, não para agora 

 e até poderia ser caso houvesse ~ previsão. 

não há. 
há um direcionamento de energia unilateral 
há uma cura, 
um planejamento uníssono a um

há, para outrem. 

sem eco dando instabilidade e fortalecimento do mesmo: 
desapego e desprendimento. 

 afinal de contas: quem realmente se importa? 

 uma nova mensagem mostra não um caminho 
 mas como as coisas poderiam ser e não são... 

 cedo demais para não serem como preciso 
 tarde demais para direcionar qualquer coisa talvez não seja... 
 talvez seja. 

 essa embriaguez constante de xeque-matte de estar tudo por um fio... 
de ser tudo tão solto de ser tudo tão... 
sem mim. 

 de estar tudo acontecendo menos aqui. 

 Não há mão a agarrar, nem a estender, 
 nem a se firmar manhã, meio-dia ou noite, ao chegar em casa e antes de dormir. 

 Não há.

segunda-feira, 7 de março de 2022

Lucky

Cheguei cheirosa em casa: Lucky

Priscila espreiou 3 vezes, psi psi psi, no meu braço tatuado. Ela disse que merecia ficar cheiroso porque era muito lindo. Agradeci e sorri bem feliz.

Naquele momento, havia gentilezas de quem olha no olho e está ali com a pessoa. Não foi mais de 10 minutos de interação, mas não vou esquecer Priscila. Ela me olhou e me sorriu. Sabe, de verdade? Antes mesmo de saber meu nome "eu sou a Grazy". "Grazy, prazer".

Lucky era o nome do meu pitbull. Tive que doar antes de me mudar. Várias situações. Mas ele ficou numa casa boa, garanti isso.

Ele era brabão como eu naquela época. Forte, metido a se achar. Um pouco demais para mim, que queria mais interação. Mais olhar, que hoje tenho da Lindinha. Nem sempre as coisas são como a gente quer.

Ultimamente, tenho aprendido a lidar muito com frustrações. Sei meus limites. Aprendi a vê-los depois de muito meltdown. Ansiedade. Daquelas brabas, sabe? Questão de saúde mental. Precisei dizer não a muita coisa. Mas sempre cedendo em algo. Mas não mais. 

Com limites, as interações diminuem. E muito. Os olhares. A atenção cuidadosa. O "deixa eu te deixar cheirosa" também.

Mas hoje eu tive um pouco disso.

Lucky.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Narcs: não vai dar tempo

 Ela me olhava com olhos que não eram capazes de me reconhecer

Ela me guiava a um caminho para legitimá-la que feria meu tornar-se

Ela buscava ela mesma em mim 


E eu também não a vi

Eu vi a mim mesma,

Não um eu que sou, mas quem eu deveria ser

Me perdia nesses limites

Me perdia de qualquer limite


Nessa perdição, a gente se desencontrou

E nunca se conheceu

Nessa perdição, a gente perdeu tempo demais

E nunca caminhamos mais de mãos dadas


Eu sabia que vc era assim desde meus 9 anos

Eu não entendia o olhar para outro lugar

Eu não entendia a mente fechada

E passei a ler filosofia para entender como as pessoas alcançam esclarecimento 

Como uma forma de te entender.

Eu quis te entender e te conhecer pelo único caminho que soube fazer para conhecer a vida: leituras e estudos 


Eu te via, mas não te conhecia

Te via fechada em si, com sorriso no rosto, mas com muitas dores veladas


Eu queria poder ter sido sua amiga desde cedo

Eu diria que vc é linda

Que é meu exemplo de elegância 

Te mostraria o quanto a estrutura de sua vida é cruel

Te falaria o quanto nossas leis são machistas, mas que eu tô fazendo alguma coisa para mudar isso

Para mudar as pessoas dessas amarras que forem uns com os outros

Estou mudando o que posso para te salvar.


Eu faço tudo isso por amor a ti… também 

É toda uma energia proposta a mudar algo que eu posso entender como justificadora de seu fechamento, de suas dores, de suas relações truncadas e de sua solidão.


É como lançar uma pedra no futuro para atingir o passado

Mas também é como te olhar como vítima disso tudo


Ah, como eu queria ter sido sua amiga de juventude.

Eu te falaria o quanto você é forte

Que não precisaria se casar com aquele playboy que tanto te violentou e que graças às deusas faleceu 

Eu diria o quanto a gente pode ser livre em si e o quanto a gente pode escolher estar em relações ou não 

Te falaria que a solidão é dura, mas é contigo 


E você me ensinaria sobre divergência. 


Nesse ciclo, ambas estavam divergindo e tentando se encontrar.


Mas hey

Eu aprendi a divergir e a amar :)

E queria muito que desse tempo.


Tempo de te conhecer 

Eu sei que te conheci

Mas eu não lembro porque essas memórias foram apagadas

Talvez seja, talvez fosse melhor

Eu manter uma saudade do que não ocorreu

Do que um ódio do que aconteceu


Eu lembro do seu não olhar 

Eu lembro das palavras (não lembro quais) que me atravessam o peito

Eu lembro de ser trancada em cárcere privado 

Eu lembro de ser humilhada em piadas

Eu lembro de ser exorcizada

Eu lembro do tanto que eu fui ignorada

Eu lembro dos olhares no espelho e do silêncio.



O silêncio que me julgava e ria de lado ou levantava a sobrancelha em desaprovação.


Foram anos ali, eu também fechada, para sobreviver.

E sobrevivi e me conheci. Sem você.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

dança

a gente dança nas análises
tudo se fecha 
parece ensaiado, mas é tudo uma conexão inexplicável 

 na verdade, a gente sabe o que é
 meio que sabemos 
mas não é algo assim tão sentido, mas é algo ainda racional 

fomos e somos assim por n motivos 
mas, o que rola realmente, eu não sei 

tentei já me entender nisso tudo, mas não sei 
o que sei é que rola essa dança 
em um espaço-tempo tão especial 
que, quanto termina, eu não sei direito o que aconteceu 

 quando termina, a gente some e fica uma expectativa 
a expectativa de retorno que gera insegurança, incerteza, que incomoda

mas né
o que eu poderia esperar senão uma espera da qual abdiquei há tempo
e abandonei para eu poder existir 

por isso eu gosto de dançar solo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Nossos eus

nesse tempo presente, eu vi você no futuro, com sua energia, sua aura, seu cheiro. havia pessoas ao nosso redor, tons de marfim, creme, madeira, luzes, poucas flores e folhas. eu vi e senti tudo isso. eu vi você e eu no futuro, um futuro ainda meio longe, talvez não apalpável, mas um futuro possível e certo. tenho quase certeza que, caso eu fale isso hoje para você, você se assuste - ou não, né... mas, o que eu ia dizer? "olha, vejo o futuro"? não seria a primeira vez, não seria a primeira visão, não seria a primeira sensação concreta de algo futuro que já tive. mas tenho calma. em um momento certo, isso vai aparecer. vai aparecer a possibilidade de eu te ver tenra, generosa e emocionada como vi ontem, mas em algo maior. nosso.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Surgiram os calmas
Os agoras
Os esperas
Os não seis

Vieram, assim, as dúvidas
De até quando
De até como
De até onde esse porquê

Essa vazão fluida
Encontrando barreiras
Quer ser sentida, vista, exprimida
Se sente ameaçada
Talvez, por quase nada
Mas o suficiente para ...?

O medo é perder
Não o quê
Mas "se"
Perder-"se"
Nas palavras meio tortas
Nos sentimentos não lidos
Nos planos não vívidos

Mais um limbo a se enfrentar
Mais um limbo a se suportar
Até o quando sempre o for
Porque só se tem o agora

O agora é de planos
Quando se for
Terá partido:
Com projetos feitos
Ou com sonhos desfeitos.

O agora sempre é importante
Por mais que você me diga "calma"
Porque o agora é o que sempre há.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Meu pai é colonizador


Buscamos identificação em espelhos
Não tenho espelho

Me arranquei de onde eu tinha raízes
Raízes são boas, dão segurança
Mas também são ruins, porque nos impedem de caminhar

Eu tinha raízes em um local racista, homofóbico, transfóbico, misógino, violento, colonial
[colonizador
Um local com pouco ar
Um local com poucos sentidos de afeto
Um local com muitas referências econômicas
Muitas restrições
Pouca liberdade
Era um local que eu conhecia como família.

Eu insistia porque, né, eu gosto do olhar, do cuidado
Sou lar e afeto
Sensibilidade e papo reto
Por mais que minha objetividade não pareça ser algo de perto

E recebia, sim, mas em umas migalhas condicionadas ao cumprimento das restrições
Desde eu fosse como devesse ser
Condição para afeto... um afeto excludente
De uma família colonizada, de feminilidade enfatizada

Minha pesquisa é sobre nós
É uma tentativa de nos explicar para nós mesmos
Talvez seja uma tentativa de compreender as razões de tantos moldes, tantas exclusões
Por mais injustificáveis elas sejam

É, talvez, uma tentativa de me comunicar conosco
E, depois dessa comunicação, em que preciso entrar no sistema de vocês para entendê-los
Eu consigo, pelos seus códigos, olhar a sua (des)humanidade
Eu consigo, pelos seus códigos, lhes oferecer uma outra possibilidade de nos fazermos
Eu consigo fazê-los reagir contra/de aquilo que nós mesmos criamos.