Genealogia do Caos
terça-feira, 18 de novembro de 2025
segunda-feira, 7 de março de 2022
Lucky
Cheguei cheirosa em casa: Lucky
Priscila espreiou 3 vezes, psi psi psi, no meu braço tatuado. Ela disse que merecia ficar cheiroso porque era muito lindo. Agradeci e sorri bem feliz.
Naquele momento, havia gentilezas de quem olha no olho e está ali com a pessoa. Não foi mais de 10 minutos de interação, mas não vou esquecer Priscila. Ela me olhou e me sorriu. Sabe, de verdade? Antes mesmo de saber meu nome "eu sou a Grazy". "Grazy, prazer".
Lucky era o nome do meu pitbull. Tive que doar antes de me mudar. Várias situações. Mas ele ficou numa casa boa, garanti isso.
Ele era brabão como eu naquela época. Forte, metido a se achar. Um pouco demais para mim, que queria mais interação. Mais olhar, que hoje tenho da Lindinha. Nem sempre as coisas são como a gente quer.
Ultimamente, tenho aprendido a lidar muito com frustrações. Sei meus limites. Aprendi a vê-los depois de muito meltdown. Ansiedade. Daquelas brabas, sabe? Questão de saúde mental. Precisei dizer não a muita coisa. Mas sempre cedendo em algo. Mas não mais.
Com limites, as interações diminuem. E muito. Os olhares. A atenção cuidadosa. O "deixa eu te deixar cheirosa" também.
Mas hoje eu tive um pouco disso.
Lucky.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022
Narcs: não vai dar tempo
Ela me olhava com olhos que não eram capazes de me reconhecer
Ela me guiava a um caminho para legitimá-la que feria meu tornar-se
Ela buscava ela mesma em mim
E eu também não a vi
Eu vi a mim mesma,
Não um eu que sou, mas quem eu deveria ser
Me perdia nesses limites
Me perdia de qualquer limite
Nessa perdição, a gente se desencontrou
E nunca se conheceu
Nessa perdição, a gente perdeu tempo demais
E nunca caminhamos mais de mãos dadas
Eu sabia que vc era assim desde meus 9 anos
Eu não entendia o olhar para outro lugar
Eu não entendia a mente fechada
E passei a ler filosofia para entender como as pessoas alcançam esclarecimento
Como uma forma de te entender.
Eu quis te entender e te conhecer pelo único caminho que soube fazer para conhecer a vida: leituras e estudos
Eu te via, mas não te conhecia
Te via fechada em si, com sorriso no rosto, mas com muitas dores veladas
Eu queria poder ter sido sua amiga desde cedo
Eu diria que vc é linda
Que é meu exemplo de elegância
Te mostraria o quanto a estrutura de sua vida é cruel
Te falaria o quanto nossas leis são machistas, mas que eu tô fazendo alguma coisa para mudar isso
Para mudar as pessoas dessas amarras que forem uns com os outros
Estou mudando o que posso para te salvar.
Eu faço tudo isso por amor a ti… também
É toda uma energia proposta a mudar algo que eu posso entender como justificadora de seu fechamento, de suas dores, de suas relações truncadas e de sua solidão.
É como lançar uma pedra no futuro para atingir o passado
Mas também é como te olhar como vítima disso tudo
Ah, como eu queria ter sido sua amiga de juventude.
Eu te falaria o quanto você é forte
Que não precisaria se casar com aquele playboy que tanto te violentou e que graças às deusas faleceu
Eu diria o quanto a gente pode ser livre em si e o quanto a gente pode escolher estar em relações ou não
Te falaria que a solidão é dura, mas é contigo
E você me ensinaria sobre divergência.
Nesse ciclo, ambas estavam divergindo e tentando se encontrar.
Mas hey
Eu aprendi a divergir e a amar :)
E queria muito que desse tempo.
Tempo de te conhecer
Eu sei que te conheci
Mas eu não lembro porque essas memórias foram apagadas
Talvez seja, talvez fosse melhor
Eu manter uma saudade do que não ocorreu
Do que um ódio do que aconteceu
Eu lembro do seu não olhar
Eu lembro das palavras (não lembro quais) que me atravessam o peito
Eu lembro de ser trancada em cárcere privado
Eu lembro de ser humilhada em piadas
Eu lembro de ser exorcizada
Eu lembro do tanto que eu fui ignorada
Eu lembro dos olhares no espelho e do silêncio.
O silêncio que me julgava e ria de lado ou levantava a sobrancelha em desaprovação.
Foram anos ali, eu também fechada, para sobreviver.
E sobrevivi e me conheci. Sem você.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2022
dança
quarta-feira, 13 de outubro de 2021
Nossos eus
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Os agoras
Os esperas
Os não seis
Vieram, assim, as dúvidas
De até quando
De até como
De até onde esse porquê
Essa vazão fluida
Encontrando barreiras
Quer ser sentida, vista, exprimida
Se sente ameaçada
Talvez, por quase nada
Mas o suficiente para ...?
O medo é perder
Não o quê
Mas "se"
Perder-"se"
Nas palavras meio tortas
Nos sentimentos não lidos
Nos planos não vívidos
Mais um limbo a se enfrentar
Mais um limbo a se suportar
Até o quando sempre o for
Porque só se tem o agora
O agora é de planos
Quando se for
Terá partido:
Com projetos feitos
Ou com sonhos desfeitos.
O agora sempre é importante
Por mais que você me diga "calma"
Porque o agora é o que sempre há.
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
Buscamos identificação em espelhos
Não tenho espelho
Me arranquei de onde eu tinha raízes
Raízes são boas, dão segurança
Mas também são ruins, porque nos impedem de caminhar
Eu tinha raízes em um local racista, homofóbico, transfóbico, misógino, violento, colonial
[colonizador
Um local com pouco ar
Um local com poucos sentidos de afeto
Um local com muitas referências econômicas
Muitas restrições
Pouca liberdade
Era um local que eu conhecia como família.
Eu insistia porque, né, eu gosto do olhar, do cuidado
Sou lar e afeto
Sensibilidade e papo reto
Por mais que minha objetividade não pareça ser algo de perto
E recebia, sim, mas em umas migalhas condicionadas ao cumprimento das restrições
Desde eu fosse como devesse ser
Condição para afeto... um afeto excludente
De uma família colonizada, de feminilidade enfatizada
Minha pesquisa é sobre nós
É uma tentativa de nos explicar para nós mesmos
Talvez seja uma tentativa de compreender as razões de tantos moldes, tantas exclusões
Por mais injustificáveis elas sejam
É, talvez, uma tentativa de me comunicar conosco
E, depois dessa comunicação, em que preciso entrar no sistema de vocês para entendê-los
Eu consigo, pelos seus códigos, olhar a sua (des)humanidade
Eu consigo, pelos seus códigos, lhes oferecer uma outra possibilidade de nos fazermos
Eu consigo fazê-los reagir contra/de aquilo que nós mesmos criamos.