domingo, 5 de junho de 2011

Passado enraizado


Parei, não sei quando, e senti: o que existe, de fato, é só o agora.
É sério.
Ok, isso tem uma conotação filosófica, mas, nem por isso, menos real.
O real é agora.
Ok, muitos falam isso, mas quantos o sentem de fato?

Sentir o presente é deixar de trazer todas as lembranças passadas como se elas ocorressem agora - não, não ocorrem. Vivemos em incessante processo de (re)(des)construção e estamos permanentemente em mudança, escolhendo sempre qual caminho seguiremos.

Agarrar-se em um acontecimento bom para manter um estado estático do ser é iludir-se.

Insistir, por exemplo, em um relacionamento em ruínas, que não possui nenhuma probabilidade de recuperação, só porque, um dia, o outro se encaixou em seu padrão de identificação, é manter-se em uma prisão relacional que impede qualquer forma de emancipação, por mais que todos insistam que a relação já está fadada ao fracasso.

Se o outro não foi visto com a devida liberdade de existência, se seus defeitos foram ignorados para que ele pudesse se enquadrar no estereótipo desejado, foi impedida a observância de suas mutações vitais. Assim, foi ignorado o conhecimento de quem ele é de verdade. Como insistir, portanto, em um relacionamento cujas pessoas negam em conhecer (relativamente) umas as outras (bá, isso volta ao conhecimento de si mesmo - assunto para outr momento). Não se engana somente o outro; engana-se a si mesmo.

Manter-se em um lugar que, outrora, trouxe diversos benefícios, mas que, agora, não há mais nada a oferecer é obstar que outros lugares possam lhe dar mais, é evitar o crescimento em outra localidade.

É importante, sim, lembrar de acontecimentos bons, mas não como uma pedra de salvação, mas para firmar valores humanos que merecem ser reiterados. Se o relacionamento não tem chance de trazer mais felicidade ou se o local não possui mais atrativos, por que não mudar?

E as mágoas, os dissensos, os conflitos passados? Passaram.
A partir disso, muitos extraem experiências, dentre elas "não posso confiar em tal pessoa", "não tenho condições de tentar isso", "não posso confiar em mim mesmo", "o certo é agir de tal modo".
Mas a "tal pessoa" pode tornar-se confiável, pode-se lutar pelas condições, pode-se conhecer mais a si mesmo e, assim, ser mais seguro de si, o certo pode-se tornar errado, preconceituoso, maléfico à sociedade.
Um processo, feito pelo presente.
Tudo muda... e manter uma situação desagradável passada no presente é engolir cotidinamente a amargura.
Semrpe há uma outra maneira de se encarar a vida. Sempre.

O passado deixa raízes que nos sustentam, sim.
Raízes emocionais, culturais, protegidas.
Algumas delas, fixam-nos numa zona confortável onde conhecemos tudo, todos os passos, todos os tempos, todos os cantos, todos os sons e sabores. Zona de segurança, mesmo que inexistente na realidade, mas viva por ilusão em nossa mente.
Dissociamo-nos, assim, do que é vivo. Tornamo-nos autômatos manipulados por dores e amores que em nós apodreceram e apodrecem diariamente em nosso oco, porque assim queremos.
Essa raízes impedem a mobilidade vital. Já estão mortas, mas insistimos em lhes destinar seiva para suportar a sua realidade de ilusão.

A vida, contudo, só recebe inovação se, em nosso consciente, deixarmos morrer tais raízes.

Um comentário:

  1. Muito interessante o blog !
    É bom ver cada dia que passa mais originalidade nessa Blogosfera
    HAHA ;) !
    Deixo o meu aqui caso queira dar uma olhada, seguir...;

    www.bolgdoano.blogspot.com

    Muito Obrigada, desde já !

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