Surgiram os calmas
Os agoras
Os esperas
Os não seis
Vieram, assim, as dúvidas
De até quando
De até como
De até onde esse porquê
Essa vazão fluida
Encontrando barreiras
Quer ser sentida, vista, exprimida
Se sente ameaçada
Talvez, por quase nada
Mas o suficiente para ...?
O medo é perder
Não o quê
Mas "se"
Perder-"se"
Nas palavras meio tortas
Nos sentimentos não lidos
Nos planos não vívidos
Mais um limbo a se enfrentar
Mais um limbo a se suportar
Até o quando sempre o for
Porque só se tem o agora
O agora é de planos
Quando se for
Terá partido:
Com projetos feitos
Ou com sonhos desfeitos.
O agora sempre é importante
Por mais que você me diga "calma"
Porque o agora é o que sempre há.
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
Meu pai é colonizador
Buscamos identificação em espelhos
Não tenho espelho
Me arranquei de onde eu tinha raízes
Raízes são boas, dão segurança
Mas também são ruins, porque nos impedem de caminhar
Eu tinha raízes em um local racista, homofóbico, transfóbico, misógino, violento, colonial
[colonizador
Um local com pouco ar
Um local com poucos sentidos de afeto
Um local com muitas referências econômicas
Muitas restrições
Pouca liberdade
Era um local que eu conhecia como família.
Eu insistia porque, né, eu gosto do olhar, do cuidado
Sou lar e afeto
Sensibilidade e papo reto
Por mais que minha objetividade não pareça ser algo de perto
E recebia, sim, mas em umas migalhas condicionadas ao cumprimento das restrições
Desde eu fosse como devesse ser
Condição para afeto... um afeto excludente
De uma família colonizada, de feminilidade enfatizada
Minha pesquisa é sobre nós
É uma tentativa de nos explicar para nós mesmos
Talvez seja uma tentativa de compreender as razões de tantos moldes, tantas exclusões
Por mais injustificáveis elas sejam
É, talvez, uma tentativa de me comunicar conosco
E, depois dessa comunicação, em que preciso entrar no sistema de vocês para entendê-los
Eu consigo, pelos seus códigos, olhar a sua (des)humanidade
Eu consigo, pelos seus códigos, lhes oferecer uma outra possibilidade de nos fazermos
Eu consigo fazê-los reagir contra/de aquilo que nós mesmos criamos.
Buscamos identificação em espelhos
Não tenho espelho
Me arranquei de onde eu tinha raízes
Raízes são boas, dão segurança
Mas também são ruins, porque nos impedem de caminhar
Eu tinha raízes em um local racista, homofóbico, transfóbico, misógino, violento, colonial
[colonizador
Um local com pouco ar
Um local com poucos sentidos de afeto
Um local com muitas referências econômicas
Muitas restrições
Pouca liberdade
Era um local que eu conhecia como família.
Eu insistia porque, né, eu gosto do olhar, do cuidado
Sou lar e afeto
Sensibilidade e papo reto
Por mais que minha objetividade não pareça ser algo de perto
E recebia, sim, mas em umas migalhas condicionadas ao cumprimento das restrições
Desde eu fosse como devesse ser
Condição para afeto... um afeto excludente
De uma família colonizada, de feminilidade enfatizada
Minha pesquisa é sobre nós
É uma tentativa de nos explicar para nós mesmos
Talvez seja uma tentativa de compreender as razões de tantos moldes, tantas exclusões
Por mais injustificáveis elas sejam
É, talvez, uma tentativa de me comunicar conosco
E, depois dessa comunicação, em que preciso entrar no sistema de vocês para entendê-los
Eu consigo, pelos seus códigos, olhar a sua (des)humanidade
Eu consigo, pelos seus códigos, lhes oferecer uma outra possibilidade de nos fazermos
Eu consigo fazê-los reagir contra/de aquilo que nós mesmos criamos.
domingo, 1 de setembro de 2019
Estou orgulhosa de mim
Hoje entendo o que era que me causava estranheza quando criança
As normas, as falas diversas das práticas, os afastamentos das pessoas por causa de dinheiro e preconceito
As cores que se distinguiam, as posições de submissão em várias relações, os silêncios.
Estou orgulhosa de mim
Por entender hoje que é o sistema
Lá atrás, ouvi o que era o sistema, e que era um sistema cruel, abaixo do céu
O rap me chamou muito sobre o sistema - o sistema criminal, o sistema carcerário, o sistema social
Angela Davis fala muito aqui
Lá, eu ouvia muito sobre o que era e o que deveria ou poderia ser
Estou orgulhosa de mim
Por entender que esse sistema traz uma leitura sobre as pessoas
Se é mulher, se é negra, branca, migrante, homem, gay, trans, pobre, rica
E que, ainda, tudo isso ainda é atravessado pelo território
Estamos na parte Sul do planeta
A parte Sul tem um histórico de colonização, escravidão, exploração
É só perceber como nos relacionamos com outros países, aqueles que se heterodenonimam desenvolvidos
É só perceber e questionar como homenageamos, honramos, reverenciamos e temos como referências externas a nós - geralmente da Europa ou dos EUA
- por que não nos referenciamos, nós, latinos?
Fanon me explica que o colonizado quer ser colonizador, e é
O pior colonizado é aquele que não enxerga sua própria condição subalterna, hierarquiza seus iguais e referencia aquele que o oprime
Poderia aqui caber a Pedagogia do Oprimido, a Teoria do Pequeno Poder
É só percebemos como nos relacionamos, como nos tratamos a partir dessas leituras que nos fazemos
Estou orgulhosa de mim
Por perceber que o sentido do capital em nossas vidas nos atravessa as entranhas
Nos enoja, nos enjoa, nos mói o coração e nos embrulha as tripas
Seu direcionamento direciona nossa autoestima, nossa localização, nossa territorialização, nossos processos de subjetivação, nossos afetos
Dita com quem vamos nos envolver, quem estaremos sãos, quem conseguiremos nos relacionar.
Vejo todos esses atravessamos de uma forma tão crua que eu conclui: satisfiz a sede de compreensão mínima de uma menina, que me trouxe até aqui.
E agora?
Hoje entendo o que era que me causava estranheza quando criança
As normas, as falas diversas das práticas, os afastamentos das pessoas por causa de dinheiro e preconceito
As cores que se distinguiam, as posições de submissão em várias relações, os silêncios.
Estou orgulhosa de mim
Por entender hoje que é o sistema
Lá atrás, ouvi o que era o sistema, e que era um sistema cruel, abaixo do céu
O rap me chamou muito sobre o sistema - o sistema criminal, o sistema carcerário, o sistema social
Angela Davis fala muito aqui
Lá, eu ouvia muito sobre o que era e o que deveria ou poderia ser
Estou orgulhosa de mim
Por entender que esse sistema traz uma leitura sobre as pessoas
Se é mulher, se é negra, branca, migrante, homem, gay, trans, pobre, rica
E que, ainda, tudo isso ainda é atravessado pelo território
Estamos na parte Sul do planeta
A parte Sul tem um histórico de colonização, escravidão, exploração
É só perceber como nos relacionamos com outros países, aqueles que se heterodenonimam desenvolvidos
É só perceber e questionar como homenageamos, honramos, reverenciamos e temos como referências externas a nós - geralmente da Europa ou dos EUA
- por que não nos referenciamos, nós, latinos?
Fanon me explica que o colonizado quer ser colonizador, e é
O pior colonizado é aquele que não enxerga sua própria condição subalterna, hierarquiza seus iguais e referencia aquele que o oprime
Poderia aqui caber a Pedagogia do Oprimido, a Teoria do Pequeno Poder
É só percebemos como nos relacionamos, como nos tratamos a partir dessas leituras que nos fazemos
Estou orgulhosa de mim
Por perceber que o sentido do capital em nossas vidas nos atravessa as entranhas
Nos enoja, nos enjoa, nos mói o coração e nos embrulha as tripas
Seu direcionamento direciona nossa autoestima, nossa localização, nossa territorialização, nossos processos de subjetivação, nossos afetos
Dita com quem vamos nos envolver, quem estaremos sãos, quem conseguiremos nos relacionar.
Vejo todos esses atravessamos de uma forma tão crua que eu conclui: satisfiz a sede de compreensão mínima de uma menina, que me trouxe até aqui.
E agora?
domingo, 25 de agosto de 2019
a gente está cansada
está difícil acordar
dormir virou um sacrifício
pela insônia ou pelo medo de não querer que mais coisa aconteça sem que estejamos preparadas
cansaço
esgotamento
paralisia de coisas rotineiras
não arrumamos a casa, não conseguimos cumprir o básico
não conseguimos há quase um ano viver normalmente
há mais de um ano não acordamos em paz
há mais de um ano não descansamos
hoje, uma selfie não tem mais o mesmo sentido
um sorriso fotografado é mais aparência ou fugacidade diante de um contexto que se impõe de forma tão sórdida e absurda
e sentimos a impotência de não termos o que fazer
buscamos explicações em teorias, como uma forma de minimizar essa angústia
temos a sensação de podermos fazer algo, mas não conseguimos
estamos em dores
estamos respirando mal
estamos chorando quando nos olhamos - para si e para nós
essa ferida vem sangrando
sangra e nos deixa anêmicos porque não conseguimos estancar por muito tempo
o rombo está grande, está assustador, está nos torturando
houve um plano de alteração de uma realidade ilusória tramado
que não conseguimos identificar o início nitidamente
mas só conseguimos sentir o fim: uma morte que é lenta para alguns, rápida para outros
mas uma morte da nossa subjetividade calcada em um território cheio de representações, memórias e imaginários coletivos
Nos damos conta do coletivo - ou da falta dele
na verdade, da existência dele enquanto uma ilusão
enquanto um câncer nos entranha com a monetização de tudo que críamos isentos ou ousider
nada foge, só morre
Nessa morte, resta, parece, arrancarmos determinadas raízes
fazer ou aceitar a desterritorialização - ou morrermos deste lugar que já não nos comporta mais
e promovermos uma reterritorialização - uma ressubjetivação
buscarmos novas zonas, novos espaços, novos significados
para que possamos respirar
ou descansar
ou dormir.
está difícil acordar
dormir virou um sacrifício
pela insônia ou pelo medo de não querer que mais coisa aconteça sem que estejamos preparadas
cansaço
esgotamento
paralisia de coisas rotineiras
não arrumamos a casa, não conseguimos cumprir o básico
não conseguimos há quase um ano viver normalmente
há mais de um ano não acordamos em paz
há mais de um ano não descansamos
hoje, uma selfie não tem mais o mesmo sentido
um sorriso fotografado é mais aparência ou fugacidade diante de um contexto que se impõe de forma tão sórdida e absurda
e sentimos a impotência de não termos o que fazer
buscamos explicações em teorias, como uma forma de minimizar essa angústia
temos a sensação de podermos fazer algo, mas não conseguimos
estamos em dores
estamos respirando mal
estamos chorando quando nos olhamos - para si e para nós
essa ferida vem sangrando
sangra e nos deixa anêmicos porque não conseguimos estancar por muito tempo
o rombo está grande, está assustador, está nos torturando
houve um plano de alteração de uma realidade ilusória tramado
que não conseguimos identificar o início nitidamente
mas só conseguimos sentir o fim: uma morte que é lenta para alguns, rápida para outros
mas uma morte da nossa subjetividade calcada em um território cheio de representações, memórias e imaginários coletivos
Nos damos conta do coletivo - ou da falta dele
na verdade, da existência dele enquanto uma ilusão
enquanto um câncer nos entranha com a monetização de tudo que críamos isentos ou ousider
nada foge, só morre
Nessa morte, resta, parece, arrancarmos determinadas raízes
fazer ou aceitar a desterritorialização - ou morrermos deste lugar que já não nos comporta mais
e promovermos uma reterritorialização - uma ressubjetivação
buscarmos novas zonas, novos espaços, novos significados
para que possamos respirar
ou descansar
ou dormir.
terça-feira, 13 de agosto de 2019
ele me quis de novo, de volta
pediu desculpas, disse que não soube lidar
falou de receio, de afetos, de vontades, de o que era nosso estar
ele pediu nova chance, tentar de novo
depois de ter assimilado, por mais de um mês, o que sentia, quem eu era, quem poderíamos ser
eu não entendi o gap
mas entendi as desculpas
não pensei em volta
mas percebi a culpa
honrei e agradeci a conduta
foi bom ver que o que eu senti, no afastamento, não era loucura
era percepção pura
foi bom sentir que eu cuidei de mim
respeitei o que achei melhor pra mim
e segui
pediu desculpas, disse que não soube lidar
falou de receio, de afetos, de vontades, de o que era nosso estar
ele pediu nova chance, tentar de novo
depois de ter assimilado, por mais de um mês, o que sentia, quem eu era, quem poderíamos ser
eu não entendi o gap
mas entendi as desculpas
não pensei em volta
mas percebi a culpa
honrei e agradeci a conduta
foi bom ver que o que eu senti, no afastamento, não era loucura
era percepção pura
foi bom sentir que eu cuidei de mim
respeitei o que achei melhor pra mim
e segui
segunda-feira, 22 de julho de 2019
quarta-feira, 17 de julho de 2019
ele te olhou
te desejou pela tua inteligência
teve receio do teu desprendimento
se desligou do desejo, deixou as coisas acontecerem, mesmo sabendo que as coisas, elas, somos nós que fazemos
tempo passou
ele tava vencendo o desamor de outra pessoa
que se fazia de ocupado para não olhar seus sentimentos, para nem de dizer com saudade
Sem prioridade, sem condição
Muita enrolação para... migalha.
Ele te quis novamente
Não sabe a razão, mas quis
Perto, naquele papo, no mínimo
Aquele de horas, que se repetiu quando vocês se viram no domingo último
Horas de conversa, de risos, de olhares, de cama, de sono
Parecia como o desamor
Mas se faz diferente
O amor seu é... amor
Amor pela vida
Não é apego
Não é dominação
É amor pelo toque do momento
Pelo olhar de penetração
Pelo cheiro e pela mexida na sobrancelha
A conexão.
Você fez a conexão, por vc a ele
E ele a vc
E ele quer mais do que ele não sabe, mas quer
Mais do cheiro na cama e na casa
Mais do gosto e da dormência
Mais do toque, do sono, do dengo, do seu ronco
Ele quer. Mais.
Disso que ele lê como amor
Amor, sim, mas não o idealizado
Mas o concreto, pela vida em si
Por se sentir vivo
E envolvido
E te esperando
Mas talvez seja peso demais
Mesmo que esse amor seja, da parte dele, no dia
Ou quando estão juntos
É fugaz, mas essencial
É necessário
E ele quer mais.
te desejou pela tua inteligência
teve receio do teu desprendimento
se desligou do desejo, deixou as coisas acontecerem, mesmo sabendo que as coisas, elas, somos nós que fazemos
tempo passou
ele tava vencendo o desamor de outra pessoa
que se fazia de ocupado para não olhar seus sentimentos, para nem de dizer com saudade
Sem prioridade, sem condição
Muita enrolação para... migalha.
Ele te quis novamente
Não sabe a razão, mas quis
Perto, naquele papo, no mínimo
Aquele de horas, que se repetiu quando vocês se viram no domingo último
Horas de conversa, de risos, de olhares, de cama, de sono
Parecia como o desamor
Mas se faz diferente
O amor seu é... amor
Amor pela vida
Não é apego
Não é dominação
É amor pelo toque do momento
Pelo olhar de penetração
Pelo cheiro e pela mexida na sobrancelha
A conexão.
Você fez a conexão, por vc a ele
E ele a vc
E ele quer mais do que ele não sabe, mas quer
Mais do cheiro na cama e na casa
Mais do gosto e da dormência
Mais do toque, do sono, do dengo, do seu ronco
Ele quer. Mais.
Disso que ele lê como amor
Amor, sim, mas não o idealizado
Mas o concreto, pela vida em si
Por se sentir vivo
E envolvido
E te esperando
Mas talvez seja peso demais
Mesmo que esse amor seja, da parte dele, no dia
Ou quando estão juntos
É fugaz, mas essencial
É necessário
E ele quer mais.
terça-feira, 25 de junho de 2019
das violências
Noite
Temperatura boa
Fone no pescoço para ouvir eventuais passos
Seriedade
Olhos abaixados e desviados para não chamar olhares
Boca fechada, prensada
Dispersão
Olho ao lado da outra rua e sorrio com a música
Um olhar encontra minhas pernas
Ele anda paralelo a esse caminho, olhando
Olhar de violência, de redução
Meus olhos não significam nada, mas meu corpo, sim
É uma categoria de possibilidades para uma masculinidade doentia
Que tem MEDO das mulheres
Que aprender a odiar o feminino desde cedo
Que tem medo de si, de sua afetividade
Que odeia sua insegurança, sua vulnerabilidade
E que, talvez, sei lá, uma forma de matar seu feminino é submeter quem o represente
Não importa
Importa em olhar para baixo
Baixar a música do fone
Procurar, nas ruas, caminhos seguros
Seja com luz para aparecer
Seja escuro, para se esconder
Sempre depende
Pimenta
Spray
Não tem, não pode, ilegal
Mas e esse olhar que violenta
Um corpo que se tensiona, que se esconde, que se protege
De um olhar?
Um corpo que tenta viver em toda a sua complexidade de potência
Mas é reduzido na relação
Mas é limitado pelo outro
O outro insiste em se fazer sujeito
Esse outro que insiste em reduzir o corpo em objeto
Um objeto que satisfaz aquilo que crê ser homem,
[mas é violência.
Temperatura boa
Fone no pescoço para ouvir eventuais passos
Seriedade
Olhos abaixados e desviados para não chamar olhares
Boca fechada, prensada
Dispersão
Olho ao lado da outra rua e sorrio com a música
Um olhar encontra minhas pernas
Ele anda paralelo a esse caminho, olhando
Olhar de violência, de redução
Meus olhos não significam nada, mas meu corpo, sim
É uma categoria de possibilidades para uma masculinidade doentia
Que tem MEDO das mulheres
Que aprender a odiar o feminino desde cedo
Que tem medo de si, de sua afetividade
Que odeia sua insegurança, sua vulnerabilidade
E que, talvez, sei lá, uma forma de matar seu feminino é submeter quem o represente
Não importa
Importa em olhar para baixo
Baixar a música do fone
Procurar, nas ruas, caminhos seguros
Seja com luz para aparecer
Seja escuro, para se esconder
Sempre depende
Pimenta
Spray
Não tem, não pode, ilegal
Mas e esse olhar que violenta
Um corpo que se tensiona, que se esconde, que se protege
De um olhar?
Um corpo que tenta viver em toda a sua complexidade de potência
Mas é reduzido na relação
Mas é limitado pelo outro
O outro insiste em se fazer sujeito
Esse outro que insiste em reduzir o corpo em objeto
Um objeto que satisfaz aquilo que crê ser homem,
[mas é violência.
quinta-feira, 13 de junho de 2019
Dos escritos conectados
A respiração é presa
Pressiono os olhos fechados
Puxo o ar com força
Exprimo uma voz rara
O tempo para.
Endurecendo a cada momento
- para não ter nada a perder
e conseguir seguir.
[Respira]
Sensível cada vez mais
- para não deixar de sangrar
para não abandonar esse sentir
[T(r)oca; abraça]
Pressiono os olhos fechados
Puxo o ar com força
Exprimo uma voz rara
O tempo para.
Endurecendo a cada momento
- para não ter nada a perder
e conseguir seguir.
[Respira]
Sensível cada vez mais
- para não deixar de sangrar
para não abandonar esse sentir
[T(r)oca; abraça]
domingo, 2 de junho de 2019
Fanfic
Lilith é a primeira na narrativa, a primeira mulher, execrada do paraíso pela autoridade competente por ter questionado o homem, Adão, e por não ter se submetido sexualmente a ele, tanto pelo consenso, como pela posição dos corpos.
Daí se torna (uma) demônia, conforme a tradição judaico-cristã, e condenada a viver fora do paraíso - ou, em algumas versões, no inferno.
Algumas outras versões contam que Lilith foi a serpente que entregara a Eva o conhecimento, a possibilidade de libertação. Lilith seria uma boa amiga de Eva. Mas Eva, nascida da costela, é eivada por ser narrada como vinda dele. Apesar disso, caberia a ela se manter no que o contexto diz dela, por sua origem, ou se libertar, pelo conhecimento. Mas ela é a mulher que não crê em si e confia, cegamente, no homem - seja para ser legitimada, seja para pretender levar alguma libertação a ele.
E ele, o homem, o Adão, é o que a denuncia a autoridade, porque ele queria, sim, ser deus, mas em uma versão legitimada, e não transgressora daquele poder, que tanto o é sua imagem. Transgredi-lo, por projeção, seria transgredir-se naquilo que o beneficia e o eleva a uma forma de autoridade - sobre a mulher. Naquele momento, não lhe parecia concebível imaginar uma outra pessoa - diversa, a outra - ao seu lado, somente abaixo - ou embaixo de si. Parecia-lhe inconcebível alguém estar ao seu lado - qualquer um deles - por liberdade, por querer estar ali. E parecia, ainda, lógico - se ele se projeta em autoridade, em sanções e em mandos, como alguém, voluntariamente, teria vontade de, por liberdade, estar ali?
A autoridade, o deus narrado, que imprescinde do controle hierárquico, sabendo de sua imagem, seu inferior, uma transgressão - a única? -, consistente em obter conhecimento, decide: sua imagem medíocre e a mulher, sua subserviente, são expulsos do paraíso. Recebem uma sanção por saberem - ou pretenderem saber - demais, e se resignam na busca eterna de serem salvos por esse erro - o pecado original - pedindo clemência, martirizando-se pela culpa constituída eclesiasticamente, ajoelhando-se diariamente por piedade, misericórdia e perdão a autoridade constituída e reconhecida - por eles.
Lilith segue. Aceita seu contexto e, sobre ele, se posiciona. É expulsada, sim: expulsada do crivo da autoridade.
sexta-feira, 31 de maio de 2019
Não estamos vivendo em um contexto fácil - muito menos seguro, no que se refere à ciência do que vai acontecer.
Dessa semana, particularmente, saio devassada me me forçar intelectual, emocional e fisicamente para conseguir fechar um prazo - meu projeto de tese. Um alívio me veio quando minha orientadora falou que me admira pelo que estou fazendo. Me emocionei por ela me ver... e acho que eu deveria me ver nessa perspectiva também, ao invés de esperar que algumas pessoas próximas me vejam dessa forma.
Na verdade, uma, uma mais próxima, quem demonstrou, uma vez, a possibilidade de me cuidar na vulnerabilidade. Mas, sabe, essa disposição das pessoas não é comum... nem dessa pessoa em específico. Fica mais fácil, assim, como eu conversava com uma amiga, fechar-me novamente na minha fortaleza; afinal de contas, as pessoas nos colocam mesmo no local de fortaleza pelas imagens que criam de nós. Não é fácil, é, às vezes, muito solitário e a sorte é contar com pessoas como nós, que criam laços, se permitem nos conhecermos como somos, em nossa liberdade.
[continua]
Dessa semana, particularmente, saio devassada me me forçar intelectual, emocional e fisicamente para conseguir fechar um prazo - meu projeto de tese. Um alívio me veio quando minha orientadora falou que me admira pelo que estou fazendo. Me emocionei por ela me ver... e acho que eu deveria me ver nessa perspectiva também, ao invés de esperar que algumas pessoas próximas me vejam dessa forma.
Na verdade, uma, uma mais próxima, quem demonstrou, uma vez, a possibilidade de me cuidar na vulnerabilidade. Mas, sabe, essa disposição das pessoas não é comum... nem dessa pessoa em específico. Fica mais fácil, assim, como eu conversava com uma amiga, fechar-me novamente na minha fortaleza; afinal de contas, as pessoas nos colocam mesmo no local de fortaleza pelas imagens que criam de nós. Não é fácil, é, às vezes, muito solitário e a sorte é contar com pessoas como nós, que criam laços, se permitem nos conhecermos como somos, em nossa liberdade.
[continua]
segunda-feira, 1 de abril de 2019
foi uma sucessão de atos de sentido ambíguo: estou, mas não estou.
explanei: isso não faz bem.
foi uma sequência de bugou
a cada sentimento, a cada pensamento expressado - contra sua postura
era uma sequência de tremores, de culpa, de fechamento à abertura à minha vulnerabilidade
na minha vulnerabilidade tão choacalhada, aprendi mais uma vez a ficar forte
na fraqueza, fortaleza
te falei algumas vezes, como até uma forma de se fortalecer pelo exterior
mas você não acreditou, você duvidou, não ouviu
não ouviu meus sentidos
meus sentimentos opostos
minhas pequenas grandes coisas: umas duas ou três - bobagens, mas fulcrais
me fez uma forma, um script, uma aposta
de salvação, de utilidade... para você mesma
que não olha para si e não se vê
mas me via em sua vida como uma salvação para explicar a si mesma - em função de
não dá.
explanei: isso não faz bem.
foi uma sequência de bugou
a cada sentimento, a cada pensamento expressado - contra sua postura
era uma sequência de tremores, de culpa, de fechamento à abertura à minha vulnerabilidade
na minha vulnerabilidade tão choacalhada, aprendi mais uma vez a ficar forte
na fraqueza, fortaleza
te falei algumas vezes, como até uma forma de se fortalecer pelo exterior
mas você não acreditou, você duvidou, não ouviu
não ouviu meus sentidos
meus sentimentos opostos
minhas pequenas grandes coisas: umas duas ou três - bobagens, mas fulcrais
me fez uma forma, um script, uma aposta
de salvação, de utilidade... para você mesma
que não olha para si e não se vê
mas me via em sua vida como uma salvação para explicar a si mesma - em função de
não dá.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019
Vis
Filhos da violência.
Da violência, onde não se cabem escolhas.
Escolhas para se fazer o certo, desde o início.
Escolhas maculadas; escolhas manchadas por uma cadeia complexa de situações que nos mortificam.
Vida complexa. Não há escapatória. Não há liberdade plena.
Para quem voa solto - ou quem se pretendia assim - , esse panorama é um tiro na testa.
Resta fácil e, talvez, indicado, o caminho do entorpecimento e da superficialidade.
Não há como voltar na ilusão da busca pela liberdade, não nesse momento.
Filhos e reprodutores da violência.
Haja fortaleza para se manter a vida. Haja ignorância aos frágeis para que se mantenham vivos.
Haja coração para nos compreendermos na vida e na morte.
Violentos.
O desafio é encontrar alegria na tentativa de fazer diferente, na união (?) do caminho. Porque a vitória não é nem projetada... não se trata de nada além que ilusão.
Da violência, onde não se cabem escolhas.
Escolhas para se fazer o certo, desde o início.
Escolhas maculadas; escolhas manchadas por uma cadeia complexa de situações que nos mortificam.
Vida complexa. Não há escapatória. Não há liberdade plena.
Para quem voa solto - ou quem se pretendia assim - , esse panorama é um tiro na testa.
Resta fácil e, talvez, indicado, o caminho do entorpecimento e da superficialidade.
Não há como voltar na ilusão da busca pela liberdade, não nesse momento.
Filhos e reprodutores da violência.
Haja fortaleza para se manter a vida. Haja ignorância aos frágeis para que se mantenham vivos.
Haja coração para nos compreendermos na vida e na morte.
Violentos.
O desafio é encontrar alegria na tentativa de fazer diferente, na união (?) do caminho. Porque a vitória não é nem projetada... não se trata de nada além que ilusão.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Quando me perco, é aqui para onde recorro, já há cerca de 10 anos.
Já fui mais assídua, já fui bem mais distante. Mas volto. Volto para mim mesma quando há um transbordamento de realidades e de sentimentos que não cabe em mim.
Olhei nos teus olhos e vi a mesma doçura que tinha visto há uns dias atrás, nem um mês.
Eu vi um oceano escuro de sentimentos, em movimento de ondas gordas, grandes.
De volta, aquele piscar lento, pelo qual eu leio paixão; mas que volta com outro assunto, em outro lugar.
Nos encontramos nesse mar, nessa profundidade e intensidades pesadas e leves. Nos perdemos nesse balanço natural de cada onda que sou eu e que é você.
A gente se perdeu demais.
Você sempre veio daquele jeito, depois da chuva, mexido, agitado, às vezes me afogando.
Eu precisava me agitar pra conseguir te achar... se não, eu me machucava.
Eu sempre vim intensa, mas devagar, em séries que quase não eram perceptíveis se não prestasse atenção na mudança. E muitas vezes você se tornou eu para conseguir me achar e em mim se encontrar.
A gente se misturou muitas vezes, e se mexeu outras, e se chocou tantas outras. Você, como mar revolto na rocha que se faz dura para resistir e para se manter ali. Eu, como mar intenso, dizendo que estava ali, pesando na areia firme e fina em que você se fazia.
Foram várias séries, intensas para menos de um mês.
Foram encontros e desencontros diversos, talvez naturais para mares; talvez fortes demais para quem se fez ou se pretende - ou se pretendia - fazer rocha.
O embate entre os mares subsistiu tempo suficiente para marcar.
Não sei das paixões desse mar, não sei das séries nem das correntes, frias ou quentes. Não sei para onde vai. Mas sei onde fico.
Já fui mais assídua, já fui bem mais distante. Mas volto. Volto para mim mesma quando há um transbordamento de realidades e de sentimentos que não cabe em mim.
Olhei nos teus olhos e vi a mesma doçura que tinha visto há uns dias atrás, nem um mês.
Eu vi um oceano escuro de sentimentos, em movimento de ondas gordas, grandes.
De volta, aquele piscar lento, pelo qual eu leio paixão; mas que volta com outro assunto, em outro lugar.
Nos encontramos nesse mar, nessa profundidade e intensidades pesadas e leves. Nos perdemos nesse balanço natural de cada onda que sou eu e que é você.
A gente se perdeu demais.
Você sempre veio daquele jeito, depois da chuva, mexido, agitado, às vezes me afogando.
Eu precisava me agitar pra conseguir te achar... se não, eu me machucava.
Eu sempre vim intensa, mas devagar, em séries que quase não eram perceptíveis se não prestasse atenção na mudança. E muitas vezes você se tornou eu para conseguir me achar e em mim se encontrar.
A gente se misturou muitas vezes, e se mexeu outras, e se chocou tantas outras. Você, como mar revolto na rocha que se faz dura para resistir e para se manter ali. Eu, como mar intenso, dizendo que estava ali, pesando na areia firme e fina em que você se fazia.
Foram várias séries, intensas para menos de um mês.
Foram encontros e desencontros diversos, talvez naturais para mares; talvez fortes demais para quem se fez ou se pretende - ou se pretendia - fazer rocha.
O embate entre os mares subsistiu tempo suficiente para marcar.
Não sei das paixões desse mar, não sei das séries nem das correntes, frias ou quentes. Não sei para onde vai. Mas sei onde fico.
Assinar:
Postagens (Atom)