sábado, 17 de julho de 2010

Sombra


Que pare de costurar a sua vida com os retalhos que os outros cantam: que passe a tecer a sua própria história.
Foi isso que foi visto e, assim, percebeu-se: falta-lhe autenticidade.
Como se relacionar com quem não tem nada de si para partilhar além de renovações de dores e fantasias magoadas?
Como se relacionar com quem só partilha pedaços de outras vidas e não está disposto a escrever a sua própria? Seria como participar de algo que não existe em sua totalidade, como caminhar com uma sombra que impede a existência de qualquer luz ao seu redor - que se entorpece com suas próprias morfinas e desculpas incoerentes que, em sua escuridão, justificam sua atitude enigmática e individualista.

5 comentários:

  1. Bem interessante!. Como é foda a realização de si mesmo. Ta bem dificil se desfazer desses retalhos ai :) cara como é incoerente comparações que reforçam qualquer nulidade as próprias caracteristicas pessoais, aquelas que eu relego a salinha escura. Você me fez pensar em meu escafandro, pois, todas as vezes que me isolo demais e fecho os olhos me imagino dentro de um escafandro embaixo do mar. Simbolicamente o mar são todas as minhas construções relegadas ao esquecimento forçado e a roupa é a armadura forjada por todas as caracteristicas emprestadas do mundo para que eu não me seja. Bom :) agradecido pelo pensamento provocado.

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  2. Geralmente aceitamos os retalhos dos outros como verdade absoluta, porque o amamos, porque o admiramos - por isso, não questionamos e, por consequência, acabamos reproduzindo ideologias e mistificações.

    Não nascemos prontos e nem morreremos com a plena realização de si mesmo. É a [minha] luta diária e invencível: na resistência, nunca se alcança a plenitude da vitória - mas [eu penso que] é melhor do que se render e [viver] existir propagando um comportamento que não é o autêntico.

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