quarta-feira, 7 de março de 2012

Teste do Sofá



Não sei se posso chamar a tentativa deste modo, mas foi como alguns conhecidos meus e eu a cunharam: teste do sofá. Tentativa, sem dúvida, pois o único teste do sofá que conheço foi o que eu mesma fiz nos sofás que eram pretendentes para mobiliar minha sala.

Há uma crise de meia e avançadíssima idade que assola alguns homens que me deixa horrorizada: estão relativamente bem colocados em suas vidas, com uma carreira relativamente próspera, uma família (se se não se debandou) relativamente estável, com um automotor que esbanje seu status imaginário (compartilhado pelo imaginarium coletivo de muitos), com trajes engravatados e engomados, relativamente de respeito.

Relativamente. Sim, porque, no menor sinal de abertura de conversa, abusam de sua hierarquia fictícia (sim, meus queridos, tudo que está criado ao nosso redor é fictício, especialmente a hierarquia) e creem poder ultrapassar o mínimo do razoável e sugerir: "então, você vai ter que fazer alguma coisa por mim...".

Abertura: qualquer abertura de sorriso é vinculada, na mente deles, a uma abertura de braços e pernas. Qualquer poder que imaginem ter é superior à vontade daqueles que lhes sejam interlocutores. Seria risível se não fosse tão ultrajante e indignante.

Não há posto profissional ou programa de estudo que me mantenha numa condição em que tenha que me calar e me sugerir que o que ele falou não é bem assim e que eu que estou enganada. Nada justifica um assédio em que um caquético inglório sonha com as "gostosinhas da graduação" e tenta se prevalecer com seu fantasioso poder de sedução e institucional.

É óbvio que todos exercem sua liberdade como bem entenderem e que eu não tenho nada a ver com isso. Aliás, quem sou eu para julgar? Sou invisível para tais pessoas e assim continuo preferindo ser: ignorem-me e juntem-se àquelas que possam convergir às suas pequenas malfadadas desventuras humanas.

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