terça-feira, 6 de abril de 2010

Porque Romeu tem que morrer*

"Viver é, sem cessar, morrer e se rejuvenescer. Ou seja, vivemos da morte de nossas células, como uma sociedade vive da morte de seus indivíduos, o que lhe permite rejuvenescer. Mas à forma de rejuvenescer e o processo de rejuvenescimento desanda, se desequilibra e, efetivamente, vive-se de morte, morre-se de vida" (Morin,op. cit., p. 63).


Ele me ajudou por algum tempo, em certas circunstâncias ele me acompanhou. Fez-me rir um pouco, olhar para o céu, não pensar muito... deu-me conta de coisas engraçadas, até. Como o senso comum adotado antes do surgimento da ideia melhor, posso dizer.

Mas surgiu um novo pensamento, um feeling cadente, sequencial e estrondoso: a novidade do pensamento, o quente do sentir, o especial do tocar. Não, não digo que troco o novo pelo antigo, pelo contrário... esse antigo é o novo, mas o antigo presente, o antigo do outro lado.

Aquilo que pensei "como queria que isso durasse" - durou, não paranoicamente, mas no acompanhamento do caminhar - a possível cristalização do passado, então, permanece ali, naquela curva, no degrau, na virada da cabeça.

É com você mesmo, Romeu.

Não me é mais permitido pela minha liberdade que eu pemaneça nessa história que eu já sei o fim - tantos filmes, quantas traduções, todos conhecem esse fim.

Não quero tocar as letras do que já foi escrito: quero escrever, sujar minhas mãos com a tinta da caneta, com o grafite do meu lápis 6B (gosto de escrever macio). Escrever e não digitar: quero fazer a letras e não mantê-las imaculadas na minha tela. Quero me misturar ao papel, pingar meu suor nele - que meu sangue seja limpo em sua evidência. E nada de linhas e parágrafos: nada de limitações. Quero uma cartolina, se possível. Várias, por gentileza.

Quero, sim, a história de luta por amor, por convivência, por união - esse velho, esse passado, esse centro. Mas por que eu preciso seguir os passos da Julieta? Por que raios eu devo me fechar em você e crer que só a vida em nós dois? (Não, Romeu, eu sou monogâmica ¬¬).

Pergunto porque é nítido o respirar de tudo, dos outros, da inocência e da malandragem. Há vida e amor em tudo isso. Por que razão seguir esse roteiro cheio de teia de aranha, cheio de amarra, com carências e tristezas? Se há falhas, que sejam integradas à completude do que é certo; que o acaso seja parceiro; que a essência seja mantida e, ao mesmo tempo, moldada diante das intempéries vivenciais. Quero me abrir ao meu domínio da realidade; não vou me negar de minhas negações. Quero ver até onde posso ir, até onde posso viver, até onde posso sentir a magia que é me ampliar ao mundo.

Então, Romeu: por que eu tenho que morrer?

Que morra você, oras*!








* pelamor, é sentido figurado, hein?!

2 comentários:

  1. Ótimo o texto, como sempre.
    Adoro ler o teu blog...
    Fico esperando vc postar as vezes para ler, como hoje...
    Bjos

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  2. Talento é isso, empolgar com uma história que foi escrita por outro, para outro e por uma circunstânia especial da vida de quem escreve; é quando algo nada a ver faz todo sentido. Parabéns pelo texto.

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