In Litterae Bellerophontis, por t.h. abrahão
Antigas civilizações já reinaram, prosperaram, construíram suas raízes, conquistaram grandes espaços; depois, ruíram. A civilização egípcia, as cidades-estado gregas, o império macedônico, o mundo romano, o universo medieval, a idade moderna, os países contemporâneos, todos se elevaram da insignificância e nos deixaram herança inconteste. Mas mesmo com a filosofia, o direito, a arquitetura, a astronomia, a história, agora jazem, tais peripécias de civilização, em nossos livros e utensílios arqueológicos, enterradas abaixo do mundo ocidental e sustentando, assim, a nossa época. Por mais fortes e poderosas, nota-se, não venceram o tempo. Como elas um dia o foram, nosso imperium está no auge do progresso, reinante em suas fortalezas ideológicas, capaz de tudo o que está ao seu alcance — ou até para além dele. Conquistamos a lua, escrevemos poesias épicas, inventamos a lâmpada, o carro, a bomba atômica. Agora estamos no topo da consequência da História. Mas por quanto tempo? Da mesma forma que crescemos, destruímo(-no)s; aos poucos assassinamos nossas próprias vidas sem razão, à guisa de intenções medíocres; ao afastarmos nossos medos, ganhamos medos novos; quando resolvemos problemas, outros surgem; solucionando respostas, outras perguntas vêm à tona. Aos poucos aliamos todo o progresso concedido pelos nossos predecessores e juntamo-las às nossas próprias conquistas para solver os mistérios que nos rondam. Mas por quanto tempo? Quando nos extinguirmos, quem nos sucederá? Ontem as civilizações clássicas exigiram o universo; hoje a exigência é nossa — a fome de progresso, de potência, de relevância. Entretanto, amanhã, não saberemos quem exigirá o poder que hoje nos cabe. Talvez sejamos o último respiro da linha do tempo, a última braçada no mar da estória universal. Nossas conquistas foram tantas que agora nos sufocam, nos agridem. Nossas lâmpadas, navios, satélites artificiais, antibióticos, nossos instrumentos e nossos versos não podem mais nos defender da morte, do esquecimento, do fim de algo que não teve razão de início. Por ora, existimos. Até quando? Por quanto tempo atravessaremos desertos, cortaremos as águas dos mares, singrando — e sangrando — pela problemática dos dias? Fica-se a pergunta, faltam-nos respostas plausíveis, sensatas, reais. Fiquemos com a imaginação audaz de nós, que é o meio mais sincero para que entendamos nossa ausência de sentido, a falta de um porquê para o que somos. Escondamo-nos nos versos dos poetas, na lógica científica de nosso tempo, na sensação de destreza dos nossos ancestrais, mas não em nossas considerações medíocres sobre o que não existe consideração, sentido, senso — pois elas não darão mais do que escombros, fósseis, rastros já apagados, quando na realidade precisamos do porém da realidade — para com ela al(can)çar nosso contemporâneo disparate.
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