sexta-feira, 10 de setembro de 2010

R A I Z


Havia uma época em que ela não tinha raízes: o que fazia era só procurar um solo fértil para descansar e germinar. Consequentemente, ela não produzia frutos.

O solo procurado era um específico: sem pedras, sem ervas daninhas, totalmente fofo e fertilizado. Numa busca idealizada, um solo perfeito, enfim.

Saía em busca das promessas anunciadas aos ventos: amigos melhores, famílias felizes, relacionamentos eternos, momentos de êxtase e curtição. Encontrou amizades instantâneas, mas não espontâneas; familiares sempre sorridentes, mas, paradoxalmente, não felizes. Isso lhe causou relacionamentos intensos, mas falhos. Momentos de intensa decepção, pois sempre considerou que os atos devem partir do que a pessoa conhece de si mesmas, e o que presenciara eram comportamentos disfuncionais que representavam a busca por respostas pessoais nos outros.

Nada daquilo era dela. Nada daquilo era ela. Pretendeu retornar, antes que perdesse mais tempo e não descobrisse que tipo árvore seria.

Voltou, com receio, pensando que nada mais poderia fazer, já que tinha dado as costas para seu arado. Mas não, para sua surpresa: chegou à sua parcela de terra, viu os estragos que o tempo fizera e percebeu  que, se estivesse ali, poderia não só ter protegido o solo, mas também incentivado-o a ser melhor.

Resignou-se a consertar os danos, a sentir novamente aquele chão e a esperar, pacientemente, que aquele solo a recepcionasse, como fizera quando era ainda uma semente. 

Para sua felicidade, as forças ocultas daquela terra se envolveram em suas raízes e a forçaram a aprofundar-se e a ver aquela realidade local: era triste, mas feliz, era intensa e promissora, era fiel e sensível. Tinha suas falhas de alguns nutrientes, mas que ela não precisava necessariamente: com a fuga anterior, aprendeu a viver com o essencial e a ensinar como se sobrevive assim.

A sua integração com seu solo fez perceber que suas raízes eram fortes, simpáticas e sinceras - o que nunca havia percebido em outro local. De sua raiz, (re)conheceu seu tronco. Separou-se do ambiente e identificou-se. (Re)conheceu-se. E conseguiu gerar felicidade, para si e para seu solo.

E, agora, ela brota, floresce e dá frutos. Perpetua-se. 

Entende, portanto, que a perfeição nunca existirá: mas que sua proximidade só será possível em seu meio somente com a ajuda de seu esforço.

4 comentários:

  1. Acho que és meio nova para ter assistido ao filme 'E o vento levou'... mas como sempre me surpreendes...
    Esse post me fez lembrar Scarlett O'Hara no retorno à força da terra vermelha de Tara (local onde ela nasceu) - ápice do filme!
    Mto bonito!
    Beijos e bom finde!

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  2. Eu lembro de, há alguns anos, ter iniciado a ver esse filme, mas peguei no sono =x
    Hehe.

    Obrigada, Lu
    Ótimo findi pra ti =*

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  3. Coisa boa ler estas tuas palavras de otimismo, esperança...doces palavras amiga! Coisa linda!!! hahahhaa. beijoca Grazy querida:)

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