sábado, 5 de junho de 2010

# 3


Acordei com um tapa da realidade, sem você. Bem mais cedo que o normal, ainda noite, despertei e pude ver claramente – sob meu ponto de vista peculiar, óbvio – tudo que acontece.

Você está aqui e, concomitantemente, não está. E, agora, não é porque não quero: é por sua vontade. Lógico que eu entendo o momento atual (e todos os meandros de antes e depois)... é complicado, garota. Pode ser; mas sei, também, que muitas das adversidades somos nós que criamos (“Mas os deuses, com voz ainda mais triste, dizem: ‘Homens, por que é que nos criastes?!’”, Anthero de Quental).


Somos criativos por demais: inventamos teses, idéias, desculpas, fugas, textos, contextos. Nossa capacidade criativa é sobremaneira útil, todavia, pode-se nos conduzir a caminhos tortuosos e conflitantes, os quais nós mesmos nos enveredamos, inconscientemente, num ato falho, para uma condição tão desprezada por nós.


Lembra-se de como servir de exemplo para os outros? Pois bem.


Encaminhei-me, no início até por vontade lúcida, para um campo e ação restrito, quase nulo, limitando totalmente minha liberdade, que é pelo que mais lutamos em nossa jornada. Compreende você, então, o que quero dizer. Subjuguei meus atos a uma circunstância não querida, por vezes repugnada, pois sabemos o que queremos. Na verdade, só posso afirmar por mim as minhas vontades, já que o que você me aparenta é contrário ao eu você me sussurra em segredo que não pode ser aceito.


I
Vejo-me de mãos atadas, talvez para acompanhá-lo. Mas estará você mesmo preso a alguma coisa senão a suas próprias justificativas, frutos de sua capacidade tão criativa e admirada por mim? Teria, desse modo, consciência disso e estaria a jogar comigo? Perdoe-me o pensamento, parasita, quiçá... apenas posso limitar o campo de ação de seu negativismo, mas não eliminar sua existência (ele pode ser útil, posteriormente, em minhas explicações racionais e frias para um eventual insucesso).


Nessas limitações, podo meus atos, meus toques, minhas palavras, até meus pensamentos, em respeito ao que lhe envolve. Não estou fazendo certo comigo... é como a liberdade que lhe mostre: estou sendo meu próprio algoz...


Assim, por mais completo que me seja você, por mais dentro de mim que possa estar (em idéias, princípios, ideais, sentimentos), darei um passo, sabendo que você poderá não estar comigo... pois está ocupado. Sei que o “você” que tenho aqui seguirá comigo, mas não como um presente ativo e um possível futuro (são meus atuais devaneio surreais, não repare), mas como uma longa conversa e sentimentos e pensamentos que compartilhamos um dia.


Sei, também, que não terminamos essa conversa e, sinceramente, pelo tema dela, seria um indescritível e pleno diálogo relativamente eterno. Como seria bom... digo isso no passado porque não sei como será amanhã, ou melhor, hoje, visto eu já ter adiantado um escrito previsto para o final deste dia.


II
Não posso, contudo, ser ingrata e vendar-me (como fiz com minha liberdade) às manifestações, tão preciosas para mim, que você dá a cada dia. Obrigada. Então, por isso, perdoe-me, não consigo ser hipócrita e dizer “me basta uma parte sua”... ser-me-ia suficiente inteiro. Você sabe, como igualmente ser-lhe-ia suficiente eu.


Então, não apago o que aconteceu, não o extermino. Apenas o deixo livre, assim como me permito, novamente, respirar com o ar que eu tinha me suprimido e sigo meu curso normal. Não terá, querendo-me, que correr atrás de mim, não é isso que quero e, como muitos sabem, não pretendi isso em minha vida... Não terá, querendo me encontrar, que andar muito; sabe onde estou, por enquanto.


Digo isso porque não posso mais subjugar-me dessa forma: posso ser eu lutando por um sentimento (cuja prática é questionável), mas não sou eu usufruindo a liberdade que tanto lutamos para conquistar e conceder.


Perdoe-me pela falta de resignação, mas, se fosse resignada dessa forma, não seria eu, pois “mais vale morrer cedo, de pé, do que viver até tarde, de joelhos” (Che Guevara).

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