segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Caos dialogado

  
- Você não parecer ser quem és...
- Por quê?
- Porque tu tens porte imponente, mas és simples... tens poder, mas não o usa para se impor... tens grandes  responsabilidades, mas não vomitas isso aos ventos... sabes até onde podes ir - e é longe, se comparado a tantas pessoas resignadas -, mas não sentes necessidade de afirmar seu destino a cada segundo. És uma paradoxo.
- Não concordo, pois partes de premissas equivocadas. A imponência não impede a simplicidade; nem o poder, a humildade; ou as responsabilidades, a desnecessidade de vomitar tudo que faço; nem onde vou chegar, o silêncio acerca do que quero e penso. Aprendeste errado sobre os extremos dessas situações e posso te afirmar que tudo que dizes que não faço, não o faço porque é condizente ou contraditório ao que posso ser. Simplesmente não o faço porque não preciso que outras pessoas me tomem por "importante" (que é a qualificação que se extrai dos fatores citados), pois eu sei o meu valor.
- E quanto vales?
- Não valho nada que seja mensurável: valho o que permanece quando me tiram os cargos, as responsabilidades, as condições para agir às minhas pretensões. Valho como um ser humano, com a dignidade e a singularidade de tal. Infelizmente, muitos me veem somente em minha historicidade e me reduzem a isso. Mas eu sou mais que em meu contexto e menos, por enquanto, do que posso ser.
- Ah, uma nota de prepotência!
- Não, uma nota de verdade que há em cada ser humano. Todo ser humano pode ser mais. Mas muitos preferem perder seu tempo cuspindo essa eventualidade do que, de fato, empreendendo sua concretização. Normalmente são os que não sentem essa verdade e a veem como algo distante: precisam trazer para perto de si tal ser mais para, somente, jogar supérfluas palavras, no lugar de ir até o ser mais.
- E há diferença? 
- Sim. Os primeiros não acreditam em si, afastam os outros porque demonstram narcisismo exagerado pela falta de alteridade e real subjetividade; os últimos, calam-se, pois não precisam sacudir os outros ao berros ao afirmar do que são capazes.
- Mas ambos são egocêntricos, certo?
- Certo. Assim como todo ser humano. A diferença é que os últimos procuram o melhor para si a favor dos outros, caminhando com aqueles (que o quiserem) para o melhor como ser humano; os segundos procuram o melhor para si em detrimento dos outros - conspurcando a verdade dos outros e guiando-os ao contrário do que podem ser - apontam-lhes o menos.


Um comentário:

  1. Faz tempo que não passo por aqui, Gra. E é impressionante o quanto teu pensamento se aprimora, o que é altamente perceptível na tua conversa.
    Aliás, outro café neste domingo? E eu posso me perder nas tuas visões novamente? rsrsrs
    Beijos, querida.

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