Começo assim: descobri-me perfeccionista. Tudo que eu fizera, tinha que ser perfeito. Tudo que eu era, deveria significar perfeição. Tudo do que eu participara, deveria ser perfeito, em minha imagem e semelhança.
Assim, por conseguinte, descobri-me concentradora. Todas as atividades em que eu estivesse envolvida deveriam ser perfeitas. Por isso, fazia a maior parte dos trabalhos, ficava encarregada da maior parte dos afazeres. Por quê? Porque não confiava na habilidade dos outros. Não confiava na capacidade de os outros exercerem uma determinada função com o mesmo esmero que eu, perfeita, era capaz de fazer.
No mesmo compasso, descobri-me manipuladora. As pessoas deveriam fazer o que eu queria - para, lógico, tudo ser perfeito como eu imaginara. Para tudo dar certo, porque, de modo diferente do qual eu pensara, era errado. O contrário da perfeição era a imperfeição, óbvio, e isso era inconcebível.
Desse modo, descobri-me estrategista. Aprendi a manipular as pessoas, a fuçar os seus intentos, e perquirir rasteiramente suas vontades. Montara, então, estratégias para que, com tais informações, pudesse alcançar meu objetivo: ter tudo perfeito, inclusive meus relacionamentos. Nesse restrito mundinho em que me permitia sobreviver, sabia manejar argumentos, planejar jogadas, prever atitudes e comportamentos.
Por consequência, não me via como opressora. O relacionamento humano deve ser pautado, claro, pela alegria da liberdade de manifestação de sentimentos e vontades. Mas as minhas relações eram baseadas nas estratégias que eu impunha aos meus contatos, que eram cercados e limitados pelas minhas artimanhas. Inconscientemente, eu sabia o que fazer para ter tudo na perfeição que planejara. Mas nunca era o bastante. Cada vez mais, oprimia que estava do meu lado, com jogadas (im)pensadas, para que eu pudesse me satisfazer.
Infelizmente, não me via como uma farsante. Vivia numa ilusão de que a perfeição do mundo depende de mim e que, por isso, todos deveriam dançar a minha música. Criara uma fantasia em que eu mesma estava me corrompendo - o que só pude perceber depois de muitas perdas e depois que passei a questionar a mim mesma.
Reinicio assim: hoje, abandonei a máscara do perfeccionismo e da manipulação. Entendi as raízes do meu problema e arranquei a erva daninha da minha existência. Conduzo meus passo com extremos questionamentos sobre intenções e interesses, como muitos sabem.
Apesar de ter me libertado de mim mesma, guardei muito bem as experiências daquela época - que jaz na adolescência. Para me questionar, precisei, dentre outras coisas, colocar-me no lugar das outras pessoas. Assim, passei por todasas posições dessas estratégias e, ainda, a vida se encarrega, sempre, de me colocar à frente outras situações em que mecanismos de defesa e de proteção podem ser descobertos.
Então, malandro, não me venha com articulações pseudojustificáveis e pseudoplausíveis de responsabilização de outrem por seus próprios atos e por seus próprios erros porque eu sei muito bem que é muito fácil culpar os outros. Mas se enfrentar no espelho que é o difícil.
Nessa escola aqui, lerdo é o gato que cai em pé e que nasce de bigode. É uma escola de principiantes, lógico, mas já é suficiente para saber entender que a enrolação num relacionamento é um pé no saco e que as argumentações (pautadas na subjetividade) infindááááveis e chatas pra krai só servem para concluir que alguém está errado e que outrem é o vencedor. Mas vem cá: numa briga em um relacionamento, ninguém ganha - ambos perdem.
Outra coisa que aprendi, também, é que não adianta dar murro em ponta de faca: se uma pessoa não se enquadra ao seu jeito, nada de forçá-la a ser quem não é. Aceite-a e fique à vontade para manter o relacionamento, ou não. Sem juízos de valor ou julgamentos. A coisa é feita de alma aberta, pois o que importa é cada um encontrar a si mesmo, em sua liberdade e na alteridade.
Por isso, não há arrependimento de um fim de uma relação quando se sente uma leveza gostosa na alma. Antes não tê-la do que ser uma corrente na vida, ao invés de um laço.
Por fim, termino livre: e o meu maior prazer, com todos os que gosto, é lhes mostrar que podem viver sem mim, devolvendo-lhes a si mesmos. Isso ao contrário de todas aquelas ideias românticas de "preciso urgentemente de você", porque precisamos, mesmo, de si mesmo, conscientes e livres, e porque o "gostar de alguém" (em sua identidade, como é ou o que faça) é diferente do "precisar de alguém" (e necessitar ter a pessoa de um jeito e em uma hora determinada).
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