Quase todos os meus entreveros são pautados no engano do argumento ad hominem. Na verdade, devo me expressar de forma equivocada que leve meu interlocutor a crer que estou atingindo-o, no lugar de, simplesmentes, refutar a sua ideia.
Por vezes, obrigo-me a esclarecer que "sou contra a tua atitude, mas isso não muda nada o que sinto por ti" ou "não penso ser correto o que dizes, o que não abafa em nada o nosso relacionamento".
Depois de muito explicar que "tu" é diferente de "tua ideia" ou "tua atitude", a pessoa se vê satisfeita por eu considerá-la. E eu me vejo cansada por tantas ponderações de "isso é diferente daquilo".
Mas me resignava, visto que o engano poderia ser fruto do que sai da minha boca, e não da recepção de quem me ouve.
Ultimamente, contudo, ando equalizando beeem mais minhas palavras e conclui que (a) ou meus significantes são diferentes de todo mundo ou (b) algumas pessoas me interpretam de forma errônea.
Considerando que não é todo mundo que fica de birra quando eu faço algum comentário em sentido oposto ao de sua preferência, tenho por falso o item (a).
Restou-me esmiuçar o item (b). [nossa, que analítica, heoheoehoe]
O que mais observo é que (óbvio) o background de cada pessoa vai determinar o modo com que ela vai perceber o mundo e, por consequência, as palavras que os demais lhe dirigem. Nesse background, podem ser encontrada a maior diversidade de sentimentos e pensamentos, muitas vezes baseados em mitos culturais falsos, que lhe foram passados pela família, pela tradição religiosa, por outros relacionamentos, pelas amizades e por mil outras opções.
Mas, o que é inconteste na maioria dos backgrounds é o medo. O medo motiva ações das mais variadas ordens, desde as mais racionais às mais ilógicas. Toscas. Infantis. Infames. Desumanas.
O medo, de fato, tem um efeito devastante: afasta as pessoas ou esconde as suas essências em um oco em suas almas e as maltrata, de maneira que se sentem vítimas de perseguição e que as fazem pensar "todos estão errados, estão contra mim".
Ou, ainda, o medo produz uma sensação de autossuficiência que separa a pessoa das outras que lhe são mais queridas: "eu sou demais, não preciso de ninguém... se ele/ela não me quer, apesar de eu gostar dela, eu não o/a quero também" (frisa-se: o pensamento de "tal pessoa não me quer", muitas vezes, é pautado em mentira, como todo o resto).
É o medo por algo que ainda não acontecerá, nem há possibilidade concreta de que vai acontecer e, principalmente, que não acontece. É fruto de conclusões errôneas que a pessoa tirou de antigos relacionamentos, com os outros e consigo mesmo.
A pessoa vive numa farsa, numa mentira, separando-se dos outros e, pior, imputando a eles um equívoco que está dentro de si mesmo e que não enxerga porque o seu EU é imaculado, não tem falhas e nem erros. Em suma: por medo, previne-se contra possíveis atitudes dos outros, mas se ataca de fato.
A falha na percepção de uma opinião contrária, assim, faz-se como um ataque a si próprio: equivocando-se com o inexistente argumento ad hominem, fere-se sozinho e afasta os outros - que, por sua vez, lógico, não querem se machucar com uma pessoa tão equivocada de si mesmo.
Quando isso acontece, eu também me afasto. Mas chego a me aproximar novamente... mas sem esperar nada da pessoa... nada além de novas mutilações - apesar de eu crer, no meu íntimo, em seu despertar.
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