sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Histórias e lendas



Naquela altura, ela só tinha um objetivo: alegrá-lo. Contar uma história de afagos, sentimentos e razões mescladas. Queria vê-lo sorrir daquele jeito mais uma vez e só... não pretendia receber resposta. Ela queria dar somente, talvez não literalmente.
Pensou em algo bom e contou-lhe em braille - não com tanto furor quanto queria, não com tanta exposição de detalhes quanto a história lhe sugeriria, mas o seu bom efetivou-se. Ficou feliz com o seu sorriso, satisfeita ao que pretendia.
Terminou a narração e o silêncio, então, invadiu o cômodo... até que sentiu o responder: era ele que puxava sua atenção para si mesma, tornando-a, agora, a protagonista de uma história não escrita. Demonstrava que queria corresponder àquele conto, ou, simplesmente, mostrar-lhe algo novo.
Pensou, remotamente, que poderia ser mais uma lenda urbana. Mas, apesar disso, ela acreditou naquela empolgação narrativa e empregou dedicação naquilo que ele falava e gesticulava - o que lhe causou imensa expectativa acerca de como aqueles fatos terminariam. Era tanto empenho e tanta excitação que a levou a supor que o final (se houvesse um final daquelas palavras maravilhosas, que merecem ser eternizadas) seria proveitoso a ambos, já que dali poderiam tirar muitas conclusões e e expectativas para novas conversas.
Num isntante, ele para e ela respeita a sua pausa... mas era só um suspense. Ele veio com mais circuntâncias, e mais possibilidades, e mais escolhas naquela história.
A excitação beirava à agonia ansiosa do que poderia ser feito quando, mais de repente ainda, ele para... definitivamente, emudecendo-se. As diversas fantasias possíveis existentes na mente dela a fizeram pensar que seria outra pausa, mas não: era um fim, sem nenhuma escolha. Aliás, havia uma escolha: a que ela mesma teria que fazer, sem a presença dele.
Quando exposto o desânimo de ter que escolher algo sem ele porque, afinal, ele que produzira e oportunizara todas aquelas probabilidades, e quando esclarecido que essas histórias são planejadas e criadas por dois, ele simplesmente respondeu, sorrindo, que ela deveria ser feliz ou se contentar em escolher sozinha, mesmo depois de ele ter iniciado todo o enredo e toda a expectativa... mesmo sendo possível a concretização do que ele falava somente, por óbvio, com ele.
Sentiu-se mal e, pela falta de reciprocidade tentada, mas não concretizada por razões que desconhece, sentiu-se abandonada - o que se exauriu estupefatamente com as palavras "boa empreitada".
Não que isso mude, de fato, alguma coisa. O dia nasceu novamente, novas histórias serão contadas, mas aquele momento, bobo talvez, que fora quando ele usurpou a escolha que ela mais queria (ter as possibilidades daquele clima com ele), foi intenso, estranho e bloqueador.
Não ficou feliz por cogitar que teria que seguir só ao menos parte de seu caminho.
E ainda não quer acreditar que, se em alguma outra circunstâncias, escolher ele como parceiro de possibilidades, tenha que se desistir de seus desejos com ele porque ele, com um sorriso nos lábios, deixe-a na mão.
A frustração, então, roubou-lhe o sono.

Se for para criar histórias sozinha, ela fica sozinha.
Se for para criar histórias a dois, ela se une a quem é capaz de criar e corresponder às histórias.
Se for para criar histórias a dois, que elas não virem lendas.











Um comentário:

  1. Oh, is it too late already? That's not fair.

    If I may: Et puis seulement quand c'est fini, alors on danse.

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