domingo, 30 de maio de 2010

Caos masculino VIII - Mecanismo de defesa




Mais uma formatura.
Festa. Festa com um motivo especial cuja razão ainda consegue superar os ímpetos animados dos que só pensam em caçar.
Mais uma oportunidade de observação do comportamento humano - não por vontade, mas como minha própria natureza manda.

Encaminhei-me ao local sabendo o que poderia me esperar, pois, minutos antes, o namorado da formanda/formada intimou-me: "Tu vens, né?! Quero te apresentar um colega nosso que é da tua área".

Primeiro pensamento: "Tsc, tsc... que queridos por querererem que eu esteja com alguém, namorando. Querem me ver feliz, eu sei. Mas, bah, eu estou bem feliz solteira - daí, aqui, surgem os links sobre não estar com alguém por carência, mas porque a pessoa deve ser especial e fazer o outro tão feliz do que já é e mimimis".

Segundo pensamento: "Tsc!!! Um da minha área! Que não cheire vademecum ¬¬".

Nenhuma produção especial para alguém, como sempre. Arrumo-me para mim, e não para parecer uma posta de carne exibida no açougue (e chamar atenção dos homens) ou um avestruz que sente a necessidade de exibir seu rabo para seus pares (e chamar a atenção das mulheres).

Chegando lá, como sempre, encontro conhecidos e sempre há um puto que lembra um fato indiferente da tua vida e comenta: "Poxa, beltrano e tu não deram certo, né?!".
- Pois é: cada um seguiu seu caminho. Melhor assim. Ah, e não tenho interesse nenhum em ficar falando sobre o beltrano.
- Por quê? - questiona com espanto.
- Porque é passado e, por felicidade, não volta mais. Bem, dá-me licença que vou procurar a mesa da minha amiga.

Na mesa, cumprimentos a todos os conhecidos e, ainda: "Fulana, este é sicrano; sicrano, fulana".
Normalmente sou meio indiferente a quem me apresentam, pois não espero muito dos outros, apenas o mínimo de respeito e urbanidade - e só. Como havia a expectativa da minha amiga de o cara apresentado ser parecido comigo (o que, provavelmente, foi falado para ele também), tracei, por humor e por facilidade da minha natureza, características iniciais do perfil da figura: tem postura, não encara, solta piadinhas meio sem graça, não tem muita ginga, sorriso bonito.

De repente, o esperado: chamou-me para dançar. A princípio, quieto. Começou, então, a perguntar sobre a "área", soltou-se e se sentiu na liberdade de fazer gracinhas sobre a dança e sobre os outros. Não vou relatar as brincadeirinhas aqui, mas apenas comento que era o tipo de gracinha que não se faz com quem não se conhece os limites. A prepotência é uma das respostas para explicar essa falta de traquejo.

No início, até ri; mas chega uma hora que, simplemente, tem que ignorar.

Terminando a dança e indo para próximo à mesa, já me desloquei para o lado contrário de sua posição: dá para notar que é comportamento de quem quer uma certa distância, certo? Errado! Ele, ao menos, não notou isso. E me chamou outra vez para dançar. Em dado momento da dança, eu comecei a arrumar meu vestido (que era tomara que caia) e me surge a gota d'água:
- Deixa que eu arrumo, hihihi - e o ser teve a empáfia de segurar o meu vestido nas costas.
Tirei delicadamente a mão dele e disse:
- Não, obrigada!
- Ah, a responsabilidade é sua, hihihi...
- Sim, toda a responsabilidade sobre mim é minha, inclusive a do meu vestido.

Terminou a música e intimei meus amigos: "sintam-se obrigados a me salvar, já que o cara não entende nem um comportamento nem um corte verbalizado!"

Dito e feito. Fui mais protegida do que um animal em extinção (só porque eu tenho a sorte de minha espécie não ser comercializada para a produção de roupas e tamborins); mas não sem uma insistência do fulano, ao que respondi, duas vezes: "não vou dançar com você porque estou dançando com meu amigo" e "não quero dançar: estou descansando" (eu estava com os pés sobre uma cadeira e bebendo água).

Observação rápida de seu comportamento: além dos sumiços repentinos de quando recebia uma negativa, mantinha a postura e o sorriso - que, percebia-se, era forçado.

Respeitando-se máscaras mode ON, portanto... como sempre.

Até que percebi que ele forçou o mecanismo de defesa dele (além da postura exagerada e do sorriso) e passou bem perto de mim em uma da músicas em que ele me convidava para dançar e se portando como se dissesse "não vou mais te convidar para dançar". O que eu fiz? Nada, oras: era o que eu queria.

Este, então, foi o ponto final para ele: normalmente, mecanismos de defesa servem para que os outros reajam de forma a correpondê-los a fim de que sejam exitosos e, assim, sejam fomentados a criar um círculo vicioso. Ou seja: ele passou por mim escrachadamente como alguém que me esnobava, esperando que eu respondesse à sua atitude indo atrás dele e pedindo para que voltasse a dar atenção a mim. É um exemplo clássico de mecanismo de defesa de quem se sente "rejeitado".

O lado bom de ter tino de observador é saber notar essas situações e poder raciocinar como reagir ou agir, como lhe for conveniente. Eu agi, ignorando. Não se dá alimento para mecanismo de defesa: corta-o pela raiz.

Assim, em menos de cinco minutos, ele veio se despedir no melhor momento da festa, com a postura e o sorriso:
- Foi um prazer te conhecer!
- Igualmente.

E um amigo, para mim:
- Gra, ele não tem nada a ver contigo, né?
- Não, de jeito nenhum. Não sei como vocês imaginaram uma coisa dessas ¬¬
- Hahaha... ele cheira vademecum, né?
- Sim, hahaha.



A percepção da alteridade é imprescindível para que eu possa realmente conhecer uma pessoa. Se eu me fecho um mundinho idealizado e parcial, passo a ser prepotente, cheio de mecanismos de defesa (para que suas carências sejam suprimidas) e ainda saio pensando que o que deu errado foi porque os outros são inferiores (se sou narcisista) ou porque eu sou inferior (se eu me vitimizo).

Abrir-se aos outros implica em se conhecer e lutar contra si mesmo.





p.s. (des)necessário 1: não tenho nada contra quem cheira vademecum, gosta de manuais de receitas de bolo e sabe artigos de cor (já cedi a essas letras e ainda terei que me debruçar e muito sobre isso). É só uma brincadeira que faço de quem pensa que essa é a verdade e que não consegue enxergar a verdade do outro.

p.s. (des)necessário 2: como consta no "Aloha" deste blog, "essas são verdades parciais e convenientes". As opiniões aqui expressadas não representam um caráter universal; ao contrário: o fulano ali pode ser, na visão de outras pessoas, o cara mais genial e gente boa do mundo. Cada um abstrai para si o que lhe é de interesse. E, no meu bem particular pensamento, não é estilo de comportamento que se concilia com o meu.

6 comentários:

  1. Deixe eu ver se entendi:
    1) Nada de piadas sem graça;
    2) Sorriso franco e brilhoso;
    3) Não vade-mancar;
    4) Mão boba off;
    5) Pegar o corte no ar e de primeira;
    6) Evitar mecanismos de defesa;
    7) Saber que raio de festa era essa;
    8) Chegar antes do "Kalula";
    9) Ter a ver contigo;
    10) Ser indicado por um namorado de amiga formanda...

    Mais alguma dica, ou o kit básico encanta Grazi tá completo?

    Preciso saber.

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  2. HAUSHAUUAHSUAHSUAHUSHAUSAS!!!!
    "kit básico encanta Grazi" é ótima!!!

    Não há um kit básico! Há um mínimo de urbanidade: não se faz piadinhas sobre ter problema no rim para alguém cujo irmão quase morreu com doença no rim (essa foi uma das gracinhas que ele fez). Para não ter esse problema, penso que a pessoa deve ter o mínimo de noção de que é necessário conhecer a pessoa para fazer piadinha e esperar dela uma risada.
    Com essa noção, não existe mão boba a priori e pega-se corte de primeira. Penso que isso vale para (quase) todo mundo - como o sorriso.

    Com relação ao vademecum e ter a ver comigo, isso é relativo: a maioria dos meus chegados não são da área de direito porque as pessoas das outras áreas são mais interessantes - porque veem a vida de uma forma "criativa": são rappers, skatistas, designers, professores de educação física, bboys, grafiteiros, surfistas, tatuadores, cristãos, ateus, etc. Somente agora comecei a ter contato com pessoas da área que, como eu, intentam pensar a 'realidade' de uma forma crítica. Isso, sim, me "encanta" demais e me faz fazer questão de ter contato com elas.

    Assim, o "ter a ver comigo" é saber pensar diferente, sem o padrão comum que tanto criticamos. Com isso, já se deleta o mecanismo de defesa, visto que pessoas que pensam diferente possuem um pouco de humildade para se questionar e rechaçar alguma atitude viciada.

    Olha, estar em festa também não é uma boa, pois não saio muito para festar.

    Ma o pior é ser indicado por namorado de amiga ou amigo: não confio mais no faro deles.

    :D

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  3. essa obstinação por conquistar em cada oportunidade, como se cada dança fosse o último tango em Paris é que enche! Parece que se perdeu o time das coisas: uma conquista pode ir se fazendo sutilmente, de forma tão branda que ninguém se sente caçada e sim irresistivelmente atraída pelo outro. Conquistar para marcar no caderninho mais uma, é uma forma exibicionista de masturbação. Sugiro nesses casos uma ida ao McDonalds e a uma banca de revista, o desejo vai ser melhor empregado, sem respingar em ninguém.
    Beijos,

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  4. Hahaha: "Conquistar para marcar no caderninho mais uma, é uma forma exibicionista de masturbação".

    Na grandeeeee maioria das vezes, é isso mesmo.

    "Sem respingar em ninguém" foi cabuloso, hein?
    :P

    Bjão, Fê

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