sábado, 1 de maio de 2010

Questão interna


Frente à minha vontade do momento naquele momento, eu não tinha muitas alternativas: ou esperava um fantasma, ou dormia e depois ficava acordada de madrugada, ou saía com uma amiga e seu amigos.

A última opção me pareceu mais acertada: distrair-me-ia, cansar-me-ia e voltaria para casa só pra dormir.

Saímos em seis pessoas: um casal de noivos, dois amigos seus, minha amiga e eu. Eu sabia que um dos amigos já estava destinado para minha amiga, e já fui logo avisando a esta, via sms, que eu estava bem sozinha.

Mas deveria feito minha comunicação em alto e bom tom para todos ouvirem. Não tardou minha amiga ser beijada pelo rapaz, o que restou aproximou-se de mim e perguntou: “que tal a gente experimentar para ver se é bom?” ¬¬

Juntamente com uma ágil retirada de braço, falei “não, obrigada”. E não olhei mais na cara do fulano até nos despedirmos de todos. Por que da minha atitude? Seria mais fácil aceitar e sair no lucro? Pois não, explico-me.

Inicialmente, não culpo quem pensa assim e nem o rapaz, em verdade. Sei que é mais um que vive um carpe diem desvairado, afoito, no sense.

Durante as poucas caminhadas pelo floor, ouve-se elogios dos mais diversos: “da onde saiu essa coisa linda?”, “minha nossa, que olhos lindos!”, “que sorriso maravilhoso você tem”, “cabelos de ouro, corpo de anjo”. Mas que tais expressões não lhe enganem: você pode ser quem for, com a estética atrativa que for, ouvirá algum tipo de elogio desse. Você como qualquer outra.

Os cortejos não são lançados a uma pessoa especificamente, pois são destinados a qualquer garota. Isso significa que o garoto que o profere não busca uma garota em especial, quer qualquer, como na letra de um funk que tocava “vem qualquer uma”.

Ele quer saciar a sua vontade de beijar, de abraçar, de se passar. E, isso, qualquer uma pode lhe proporcionar. Ele quer sentir na pele um ato positivo, um afago, uma expressão corporal de que é querido e aceito. Pura ilusão, ledo engano.

Seus momentos de satisfação passarão e logo precisará de mais. Mas a garota que lhe proporcionou breves minutos de prazer é só mais uma; ele quer outra, a qual, quiçá, proporcione-lhe saciedade por mais tempo: outro engano.

A satisfação corporal passará rápido: os atos não se perduram no tempo, como as sensações produzidas por eles. E volta a ficar vazio, oco, vácuo. Chega a dar eco.

Vê-se, então, que a saciedade dele não se fará por meio de contatos físicos pulsativos, mas sim pelo preenchimento desse vazio pela sensação de que a pessoa é desejada, ou que, no mínimo, é-lhe almejado o seu bem; e isso não acontece em uma noite... mas quase ninguém mais quer investir em algo que os frutos não sejam colhidos a curto prazo. Infelizmente.



(Texto escrito em 31.08.08 e lembrado por conta do post de Luíza, no blog Mil Faces de Luíza).

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