Não é de se estranhar o receio da maioria dos homens quando se deparam com mulheres que sabem argumentar, que propõem projetos e que decidem seus problemas e o dos outros porque, infelizmente, isso ainda é raro.
Vivemos em uma sociedade em que, apesar do movimento feminista (que remanesce, no meu ponto de vista, com mais erros do que acertos), ainda se depara com uma visão depreciativa do feminino – o que, igualmente, não é motivo de espanto, já que muitas mulheres empregam sua natureza mais para a manipulação e feedback de defesas do que para sua própria evolução como ser humano.
Explica-se: a natureza emocional da mulher é usada para criar agitação desnecessária, tempestades em copo d’água, escândalos de choro e lamentações. Esse sentimentalismo é vazio, não ajuda em nada - apenas manipula. Se algo dá errado nos planos da mulher, se alguém sofre, se se surpreende negativamente, chora, lamenta-se. O choro é uma ação que somente poderá trazer algum alívio, mas não um resultado efetivo.
Gasta-se energia desnecessária nas lágrimas ao invés de empreender esforços em envolvimento, em compromisso. Como distingue Osho: é empatia, não apenas simpatia.
O esteriótipo de sentimentalismo da mulher a sedimenta em uma imagem de incapaz, de ineficaz, de ser que precisa de tutela como se não possuísse condições de se autodeterminar. A mulher chorosa que se mígua frente a uma situação triste, portanto, está vinculada à imagem de um salvador, de um homem que a abrace e a proteja. Todavia, tal é um paradigma amplamente equivocado que não só frustra o desenvolvimento das mulheres que cedem a ele como sentencia ao homem hetero-afetivo a eternidade infeliz de conviver com alguém que precisa, sempre, ser salva, impondo-lhe um encargo que, a médio ou a longo prazo, representar-lhe-á o fracasso da totalidade de seu eu masculino. Isso porque precisará "investir" seu tempo em salvar a mulher, ao invés de investir em sua própria evolução como ser humano e como casal.
Há tempos acho tristes os homens que, jocosamente, dizem que o lugar da mulher é servi-lo, encostando a barriga no fogão ou no tanque. São dignos de piedade, realmente, pois não conseguem enxergar que eles mesmos criam ou pretendem perpetuar uma condição parasitária: a mulher lhe serve, mas, para isso, o homem precisa sustentá-la, mantê-la e suportá-la quando, não podendo exercer seus potenciais humanos, cansar-se da rotina do casamento.
O pior, no entanto, não é a pequenez dos infelizes homens que riem de tal situação. O agravamento observa-se no comportamento da própria mulher, que dá reiteração a essa espécie de pensamento ao não impor-se com sua natureza envolvida, sabendo só sentar e chorar.
Molda, dessa forma, sua sensibilidade de acordo com sua conveniência (consciente ou inconscientemente): faz papel de ingênua, ou de sedutora, ou de menininha mimada dependendo do objetivo a ser alcançado - só não se expressa como realmente é e acaba, portanto, deturpando sua inteligência, sua função intuitiva e suas qualidades sensíveis.
É a ratificação do protótipo da adolescente segundo o qual a garota passa a enxergar o mundo de dentro do carro do namorado, segundo leciona C. Dowlling. A mulher passeia pelo mundo do homem. Ao entrar no carro dele – que são as instituições dele – a mulher está meramente excursionando. Ela não tenta sentar-se no banco do motorista, fazer as coisas do jeito dela, provocar mudanças. Ela não tenta alcançar o poder sobre sua vida.
Professa a rançosa cultura medieval, esculpida no cristianismo, que defende que o homem é a cabeça da família e a mulher, submissa, é o corpo familiar, cujos movimentos, ímpetos, emoções, palpites são intimamente dependentes do que a/o cabeça determinar. Remanescerá mascarada, atrás do homem, escondida pela relação parasita-hospedeiro mantida com seu par, ou com seu pai, com seu irmão.
Assim, será a eterna passageira no automóvel do homem; será o corpo que obedece, não tem sentidos senão o tato limitado pelo querer do homem. E este, crendo que domina o relacionamento, impinge a sua própria condenação de não se realizar plenamente.
Contudo, são pouquíssimos os homens esclarecidos sobre essa visão, são raras as mulheres que honram não só o que têm entre as pernas, mas também o que guardam dentro de si - o que torna, por óbvio, a maioria das pessoas limitadas quanto ao pensamento de que a mulher não precisa ser salva por ninguém, a não ser por ela mesma.