quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Fly


Ah, menino... o que fizeram contigo?
Não viram a sensibilidade dos teus atos e o carecer dos teus dedos...
Ignoraram o teu olhar vigosoro e curioso,
Foram indiferentes ao teu terno viver.

E agora te aconchegas em mim, uma muralha bruta, gélida e triste...
Procuras descanso, procuras proteção, consolo.
Tardas em encontrar o modo mais correto, menino...
Aqui não encontrarás estratégias vingativas de efeito,
Não acharás o que te fora perdido, roubado, omitido.

Esse calorzinho provém do teu encosto com minha estrutura, é falso
É produzido por ti... só te esquentarás, porém, caso empreenda grande esforço no atrito entre minhas paredes e teu corpo. Cansarás fácil e sofrerás porque não entenderás em que erras.

E erras por estar aqui dentro, meu querido.

Perdes muito mais do que não te deram: perde a tua liberdade, a tua consciência solta, o horizonte infinito, a malícia do vento, a leveza dos dias.

Torna-te, aqui, fechando-se contra os outros, prisioneiro de ti próprio. Não aceites uma condenação criada por ti mesmo... não prendes ninguém aí além de você mesmo.

Não esperes chegar o momento em que enjoarás de teus ecos, falsos afetos (criados para não mais te machucar)... o momento em que vomitarás suas defesas e seus ataques, pois eles voltarão à tona cortando a tua garganta.

Todos podem tentar te maltratar, menos tu mesmo.

Menino, vê o quanto tu és especial, o quanto tu sabes ver muito além deste aquém que se vive...
E advirto que essas penas não são de compaixão: são das tuas asas que te farão voar, se assim desejares.

E deseja! Não desperdices tua força, teu vigor, tua delicadeza.
Não te afogues nos rumores passados, que nem existem mais.

Refaz tua história, menino... sai daqui, desta muralha - não sou para ti.
Aprende a voar, aprende a desenvolver teu caos, aprende a vencer com teu caráter firme e fiel.

Não temas o abismo, porque voas.
Não temas o mal, porque o conheces e sabes como manipulá-lo.
Não temas as pessoas, porque elas reconhecerão em ti um homem de palavra - se não reconhecerem, não merecem o teu coração.
Não temas o hoje, porque é tu que o escreves... nem o amanhã, com o qual poderás sonhar.
Não temas um abraço, que é o que representa o que não podes ver nem definir.
E não temas a ti mesmo, pois és teu maior aliado.
Acredita!

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