Criamos o monstro para facilitar as nossas vidas e acabamos dependendo do safado.
A figura clássica do Leviatã não é privilégio somente da institucionalização do Estado: irradia-se e lança suas raízes em tudo que o ser humano cria - e destrói.
Criamos os veículos para facilitar nosso transitar aos mais variados lugares, confiamos em tal logística para manter nossa estrutura fictícia de vida e nos presenteamos com engarrafamentos, poluição e uma parcela considerável de emissões de gases-estufa. E há quem pense que a resolução do problema está na construção de ruas por cima. Ano que vem, no entanto, vou comprar um 0 km, muitos pensam.
Desenvolvemos a internet que, após a fase de objetivos bélicos, transformou-se em nuvem, que, por sua vez, tratou de ser dominada por grandes empresas. Resultado: centralização das informações da rede e crescimento aleatório, que pode culminar na sua própria destruição ou no seu caos, caso um dos servidores mestres seja atingido por um ataque hacker. Mas, mesmo assim, a minha identidade está na internet: tenho perfil, fotos e amigos, vários amigos ("ah, se o perfil lotar, faço o nº II").
Asfaltamos nosso barro para um trânsito mais fluido - e eu não coloco meu carro na lama, acrescenta o cara ali. Dizimamos nossas florestas para um projeto mais arrojado de condomínio - com piscina, paiê. E nem notamos que o asfalto influencia no aumento da temperatura e a ausência de árvores prejudica até mesmo a nossa respiração.
Ora. Não nos preocupemos. Para cada problema, há uma resposta:
Adquirimos ar condicionado para nos livrar da loucura escaldante do clima, modificado, em grande parcela, pelas nossas próprias ações. Nem olhamos para fora: basta ligar o "frio máximo" e tudo está resolvido.
Inventamos o fast food e lutamos contra a obesidade, o colesterol, a taxa alta de triglicerídeos. Pensamos em uma bermuda que pode diminuir em vários centímetros a cintura.
Soluções paliativas. Somos tão criativos, mas tão preguiçosos para pensar em uma ação realmente eficaz. Preguiçosos e/ou gananciosos, pois custa caro uma política concreta.
Se assim caminha a humanidade, morreremos com uma aparência bem agradável, enquanto nosso corpo entra em colapso, sem atividade física, alimentos saudáveis ou cuidados médicos. Isso porque somos alimentados por vários monstros. Não vivemos sem eles.
Criamos nossa salvação momentânea inconscientes do preço a pagar pelo paraíso efêmero.
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