domingo, 21 de fevereiro de 2010
Inconsequência
A liberdade, por vezes, é mal usufruída. Não que minha existência contemple o valor real da liberdade – se tal existir, tendo em vista que o que há são tentativas de definir vagamente o que é ser livre sem cristalizar, paradoxalmente, a liberdade em um limite conceitual.
Mas imagino que seja algo tendente à prática de atos e omissões que esteja o máximo possível desvinculada de futuros e eventuais deveres – pois dessa maneira poderá viver como bem lhe apetece sem que haja a necessidade de prestar contas a outrem. E que a assunção de responsabilidade seja admitida de forma consciente e proveitosa ao indivíduo, já que ter-se-ia uma incoerência absoluta o amante da liberdade fadar-se ao insucesso e agir de forma temerária à própria sorte.
Claro é, portanto, a inexistência de uma liberdade absoluta, pois geralmente, na teia em que se vive, um passo bem ou mal dado atingirá outro ser humano, fato que vinculará o andarilho, de forma mais ou menos intensa, a responder pela passada.
Pensa-se, então, que o emprego do bom senso na jornada é de grande utilidade, pois, embora convencionado inconscientemente pelo grupo social, é logicamente por ele aceito e seu praticante resta desapercebido em seus atos, não gerando (muito) questionamento sobre sua vida. É o que defende Descartes, ao apontar o uso de senso comum em substituição temporária à aplicação dos princípios axiológicos e individuais do ser humanos, que serão perquiridos após uma longa fase de refutações.
E que, assim, sejam os ideais do indivíduo, ao menos, em sua aparência, semelhantes ao senso comum, a fim de que haja menos tumulto entre seus próximos, podendo o ser humano pensante, de tal modo, agir por seus próprios pensamentos, sem se limitar a convenções patéticas e ilógicas.
Há tipos, no entanto, que, no afã de gozar plenamente de sua liberdade, retiram a cerca que os limita e correm desvairadamente como um cachorro fazendo festa; mas, ao contrário do animal amigo, aquela besta fere outras liberdades e terá, como corolário, que carregar consigo o fardo de ser lembrado como um indivíduo inconsequente, acarretando, por sua vez, as mais variadas limitações no seio social. Ou seja, abre-se a porta para agir de forma egoísta como bem entender, sem nenhuma amarra, sem calcular os efeitos de seu comportamento, e, por via transversa, às suas costas ou bem à sua cara, no revés dado pela vida, o indivíduo é privado do que a teia em que vive poderia lhe proporcionar – o que é totalmente questionável, variável e suposto, mas possível, motivo pelo qual, pelo bom senso falado, sugere-se não arriscar.
Assim, já que não respeita o afoito o seu próximo, que, ao menos, tenha consideração por si mesmo e não se prive das boas venturas que lhe tocariam. Ou não: manda tudo à danação, inclusive a si próprio.
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Todos querem liberdade, mas esquecem que vivem em sociedade...e infelizmente, a liberdade de uns acaba tolhendo a de outros.
ResponderExcluirO que ocorre muitas vezes é o excesso de liberdade e a fakta de respeito com o próximo. Liberdade e Respeito deveriam andar sempre juntas. Liberdade sem respeito vira caos, respeito sem liberdade, vira uma prisão.