quarta-feira, 4 de maio de 2011

Céu e inferno são os outros, assim como nós mesmos



Só há entendimento dentro da intersubjetividade (Habermas).
Para tanto, a relação intersubjetiva não deve sofrer ruídos:
deve ser empática, autêntica, transparente (Rogers).
Para tanto [2], deve-se abandonar os mitos culturais que contaminam os relacionamentos, tais como a falácia na natureza maléfica e/ou pecadora do ser humano (amplamente difundida pelos dogmas eclesiásticos e, cientificamente, pela teoria freudiana); a falsa alteridade gerada pela sociedade da informação e do espetáculo (saiam dos seus computadores e vivam!!!!); os mecanismos de defesa egóticos, surgidos pelo medo de que devemos sempre nos defender de tudo e de todos (o homem é o lobo do homem, como diria Plauto e, posterirormente, por Hobbes).
O ser humano, de per si, não é bom nem mau. A sua existência (seu contexto sociocultural) precede sua essência (bondosa ou maléfica). E, ainda assim, sua essência vai depender do que o ser humano quer que ele seja.
Sim, nós escolhemos. A todo momento.



"O inferno são os outros"

As outras pessoas são fontes permanentes de contingências.
Todas as escolhas de uma pessoa levam à transformação do mundo para que ele se adapte ao seu projeto. Mas cada pessoa tem um projeto diferente, e isso faz com que as pessoas entrem em conflito sempre que os projetos se sobrepõem. Mas Sartre não defende, como muitos pensam, o solipsismo.
O homem por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Só através dos olhos de outras pessoas é que alguém consegue se ver como parte do mundo. Sem a convivência, uma pessoa não pode se perceber por inteiro. "O ser Para-si só é Para-si através do outro", ideia que Sartre herdou de Hegel. Cada pessoa, embora não tenha acesso às consciências das outras pessoas, pode reconhecer neles o que têm de igual.
E cada um precisa desse reconhecimento. Por mim mesmo não tenho acesso à minha essência, sou um eterno "tornar-me", um "vir-a-ser" que nunca se completa. Só através dos olhos dos outros posso ter acesso à minha própria essência, ainda que temporária. Só a convivência é capaz de me dar a certeza de que estou fazendo as escolhas que desejo.
Daí vem a ideia de que "o inferno são os outros", ou seja, embora sejam eles que impossibilitem a concretização de meus projetos, colocando-se sempre no meu caminho, não posso evitar sua convivência.
Sem eles o próprio projeto fundamental não faria sentido”, in MILHANO, Marisa. A liberdade segundo Jean-Paul Sartre.

Um comentário:

  1. Parabéns pela matéria.
    A visão deturpada, a falta de conhecimento e a arrogância dos homens com relação aos seus semelhantes é que provoca as desavenças, os conflitos e as guerras. Não vivemos sozinhos no mundo e por mais que não se queira somos seres dependentes e que precisam da vivencia em comunhão social.
    Assinado Ser Humano

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