Não gosto de discutir, mas aceito a necessidade de discussão para se entrar em um consenso. Só é possível o alcance deste se os seus participantes estão abertos um para o outro, favorecendo a compreensão mútua e a criação de uma verdade consensual.
Contudo, isso nem sempre é fácil porque, na maioria das vezes, as pessoas discutem para impor suas ideias, independentemente se sua validade e integridade. Muitas discutem defendendo tradições mitológicas e desagregadoras sociais, teorias que nos afastam uns dos outros, pensamento que causam o dissenso por puro egocentrismo: separar-se daquele que é "sujo", inferior, maculado, do mundo, diferente.
Posso falar sobre o tema porque, por mais que sejam claros estes e outros pensamentos, nem sempre senti abertura para poder manufestá-los, para poder ser eu mesma. Tive que resistir às mais diversas aversões para eu poder encaminhar o que meu ser entende como favorável à evolução humana.
Discuti por horas, anos a fio, não para impor minhas ideias, mas para a sua incolumidade e para impedir que fossem esmagadas pelos egos e preconceitos alheios e alguns próprios, que me foram inseridos sem a minha lúcida consciência (redundância fundamentada).
Já fui tachada de "porra loca" por pretender lutar contra o sistema; apontaram-me como drogada por eu ter mais de cinco piercings (e olha que eu nem bebo, nem fumo, ...). Já me chamaram de burra por eu ser loira; de falsificada por eu tingir os cabelos; de velha por eu usar óculos; de pirralha por eu não querer dar no primeiro encontro (primeiro e último).
Ouvi que sou malvada por não entrar nos joguinhos psicológicos de um carinha e por preferir dizer que ele não precisa fazer isso. Disseram que eu estava "pagando de gatinha" por eu usar shorts e tênis e que eu estava dando uma de "mulherão" por eu usar vestido longo.
Duvidaram que eu me formasse. Apostaram que teria meu primeiro filho antes da maioridade (e quando eu nem tinha beijado ninguém - só tinha recebido uma cartinha inocente de amor). Questionaram satiricamente meus esmaltes branco e laranja - sem falar no pink, que hoje é moda. Riram jocosamente do meu jeito de falar, das minhas pernas grossas e das minhas expressões.
Apontaram-me como excluída por eu andar de roupa larga e porque não pago pau para grifes. Olharam-me estranho porque eu andava de moto e olhando-me estranho quando eu digo que ando de patins. Alguns ainda questionam sobre minha formação educacional e profissional porque gosto de andar de bike, de correr, de ir a pé ao mercado, de praticar arte marcial e gostar de funk e samba.
Disseram que eu não era capaz e que era mimada - mesmo lutando pela comida do dia e o cobertor do futuro. Brigaram porque eu estaria vendo o mundo com um prisma cor-de-roa e porque não existe paz entre humanos e nem amizade entre homem e mulher. Afirmaram que eu estava com o demônio porque eu dancei hiphop numa apresentação da igreja e que a paz entre os humanos só existiria se eu me confessasse os pecados que eles mesmos cometem em seus quartos (e que eu não acho erro).
Fui vista como a ovelha perdida por eu ir contra a hipocrisia das igrejas e por não baixar a cabeça para ninguém - somente para Deus.
Engraçado como as pessoas projetam nos outros suas próprias malícias e preconceitos. Assim, condicionam a vida das outras pessoas de acordo com os seus olhos, que são falhos, viciados, atormentados pelo mal que há dentro delas e que não reconhecem - por causa da velha história: é mais fácil apontar nos outros...
De muitas dessas pessoas, afastei-me; com outras, as poucas que valiam a pena ou que era obrigatório o convívio, lutei pelo reconhecimento da minha liberdade e do meu caráter. E sempre para pegar o aprendizado necessário de lidar mais um pouco com a minha própria sombra, como o meu espinho na carne, a ferida na coxa - na qual, por sinal, está tatuada uma figura maligna a qual não temo.
Já andei do lado da sombra, dentro e, em épocas de crise, embaixo dela. Não temo o mal, nem a dissensão, o preconceito, a discórdia, o apontamento. Já me jogaram aos leões e de lá saí muitas vezes ilesa, graças a quem sirvo.
Não temo a língua ferida, a patada irônica e o veneno rasteiro. Se já lidei com o meu próprio mal com Deus, quem mal vou temer?
Não me enquadro, não me anulo: eu me expando, eu me (re)dimensiono. Não me imponho o desfavorável, mas luto pelo esforço do que vale a pena. E, se a minha essência não valer para mim (em analogia ao Rashid), não deveria nem ter nascido.
Se, ainda assim, novamente, quiserem me jogar no fogo, saiba-se que isso já aconteceu... e saí de lá várias vezes, e sempre forjada para suportar mais.
Agora, fazer-se de próximo e amigo e, nas entrelinhas comigo ou pelas costas com os outros, promover uma verdadeira implosão de piadinhas filhas-da-puta sobre mim, é contraditório e traiçoeiro. Aqui, segue-se o princípio já falado:
se não sabe me DEFENDER para melas cuecas que vivem para putaria, irresponsabilidades e risadinhas infames,
NÃO SERVE PARA ESTAR DO MEU LADO.