terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O que dirão de nós?


http://www.malvados.com.br/

“O mundo da vida tem sofrido um processo de mercantilização único na história da humanidade”, alertou-me Joaquín Herrera Flores.

Não somos mais uma economia de mercado: somos uma sociedade de mercado, em que a oferta é maior que a procura, e sociedade no mercado: nas prateleiras, valores, regras, pessoas, convenções, sexos, afetos.

Tudo isso porque nos transformamos em objetos; coisificamo-nos. A hegemonia do neoliberalismo, a abertura de todas as barreiras aduaneiras, inclusive as morais, escancaram a sede imposta pelo lucro. Sede ensinada, pois não nos é natural. Sede enxertada pela produção, pela mídia, pela nossa própria baixa estima.

Quem não possui essência interior, luta desmedida e desesperadamente pelas vanglórias externas. E com razão, à atualidade: virtudes da alma são desvalorizadas à medida que se alastram as competições por quem aparece melhor, por quem banca mais, por quem detém mais poder (econômico, que abarca o social, o político, o jurídico) perante os outros.

E, então, guerreamos uns contra os outros. Homo homini lupus, bradaria Hobbes.

E o sentimento de inferioridade surge quando mostramos, uns poucos, pretensões axiológicas reais, profundas, essenciais. Valores esses que, no mercado, são desvalores, ou avalores – não representam algo útil à política majoritária de exclusão.

Nesse (des)compasso, não somos mais o que temos aqui dentro: somos o que consumimos aí fora. Consumimos/somos marcas, tendências, objetos... assim, habituamo-nos a permutar dinheiro por tudo.

Mas fomos além da matéria amorfa... queremos adquirir pessoas e tudo o que elas podem oferecer: amor, respeito, amizade, compreensão.... valores esses desconsiderados que, aqui, importam se produto de compra e venda - método rápido, porque os seres humanos estão ocupados demais buscando a mais valia para perderem tempo em conquistar e criar laços verdadeiros. Confundimo-nos e perdemos o nosso referencial.

Não sabemos mais quem somos, por que lutamos, por que vivemos – a vida se restringe a uma batalha de receita, despesa, briga pelo superávit e decepção pelo déficit.

Perdemo-nos.

Nosso presente jaz, portanto, nos fundos daquele mercado, como um produto levemente batido que não é aproveitável porque não atingiu as metas da perfeição – uma perfeição implantada não pelo que é útil, mas pelo que o sistema dominante dita.

Deixemos isso registrado na fatura de cartão de crédito.

Um comentário:

  1. estas pessoas já não são humanos, são produtos consumistas de uma era que se finda no seu próprio âmago, não encontrando a resposta certa pelo que realmente procuram inconscientemente...

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